domingo, 7 de dezembro de 2014

Fim de um ciclo, começo de outro, e assim é a vida





E um ciclo vai terminando na vida da minha Raphaela. Depois de  quase 14 anos estudando no Colégio ESCALA, agora ela vai experimentar nova escola.
A maioria dos amigos, alguns com quem convive há 10, 13 anos vão trilhar novos caminhos. Os encontros serão mais raros, mais espaçados. O celular e as redes sociais estarão presentes como ferramentas que encurtarão as distâncias.
Novos amigos virão, novas experiências, novos desafios.
Sei que agora bate um medo, uma insegurança... Mas você sabe que  estarei  sempre ao seu lado, para ajudar, fazer e brigar por aquilo que for importante.
Não terá  que passar dias inteiros dentro da escola, cansada, exausta e ainda ter que esperar a mãe naquela reunião das 19h30min.
Agora, se livrará do fardo de ser a filha da diretora. Fardo que a fazia estar mais contida, falar as coisas mais comedidamente, frear impulsos. Mas que ao mesmo tempo, ensinou-lhe muita coisa boa e ajudou a moldar o seu caráter.
E tem mais... Os ganhos também foram muitos: assistiu à maioria dos seminários produzidos ao longo desses anos, participou de quase todas as exposições, assistiu  mais apresentações, mais palestras, mais sessões de filmes. Enquanto me acompanhava, podia aprender mais também.
Obrigada por aguentar estar na escola por 12 horas, tantas vezes.
Obrigada por entender minha braveza com as tarefas e compromissos.
Obrigada por compreender que muitas vezes eu precisava dividir a atenção que deveria ser exclusivamente sua, com o meu trabalho.
Agora é pensar no que virá. Sei de sua capacidade e do quanto é responsável com seus compromissos.
Aproveito para agradecer todos os professores que ajudaram na formação da minha filha. Começo citando a tia Darcy Krahembull do maternal, mas prefiro não continuar a lista para não cometer injustiças. Todos foram importantes e deixaram a sua marca na vida da Raphaela através das broncas, conselhos, puxões de orelha, encorajamentos, estímulos, empurrões, olhares e risos.
Muito obrigada a todos!






sábado, 13 de setembro de 2014

O que os (as) selfies não revelam sobre os adolescentes

                                     

                                          O que os (as) selfies não revelam sobre os adolescentes

     Fazer selfies não é mais mania só da garotada. Muitos adultos também curtem essa divertida mania de autofotografar-se sozinhos ou com amigos.
    É certo que vivemos tempos de muito narcisismo. Os jovens acham-se “mega”, “ultra-especiais” em tudo. Querem ser atendidos primeiro, querem atenção exclusiva, querem ser queridos mais que os outros, desejam muitos bens de consumo, sem desejar também esperar por eles, querem sucesso, sem esforço.
      Pensando melhor, não são só os jovens que têm essa lista de características, uma grande porção dos adultos também a têm. Mas agora, vou deixar os adultos de lado e falar só dos adolescentes.
    Hoje os jovens querem registrar tudo em suas redes sociais. Tudo não, só o que lhes interessa.  Só o que lhes dá status. Só o que os faz parecer grandes, adultos. Só o que lhes faz ter crédito com seus pares.
     As fotos feias são apagadas. As fotos estranhas ficam de fora.
     Os autorretratos tirados pelos jovens mostram como se veem bonitos, interessantes, alegres, cheios de vida. O que eles não revelam é que os adolescentes enfrentam um período bastante conturbado, repleto de medos, inseguranças e mudanças.
     0s (As) selfies mostram cenas engraçadas, vívidas, recheadas de alta auto-estima. Elas escondem as irritações, o mal humor, a preguiça e as angústias sobre o futuro, tão comuns nessa fase.
     As fotos de si mesmos mostram jovens confiantes. Elas não deixam em evidência as incertezas dos amores não correspondidos, as dúvidas sobre sua sexualidade, as questões  sobre as escolhas profissionais.
     Se os (as) selfies mostrassem os conflitos emocionais dos adolescentes, elas escancarariam suas imperfeições e angústias e isso no mundo virtual é proibido. Só vale mostrar situações perfeitas, momentos felizes, desejos realizados.  Nas redes sociais parece haver a obrigação de ser feliz o tempo todo.
     Quando os (as) selfies são em grupo, retratam as amizades  perfeitas, ajustadas, equilibradas. Sabemos da instabilidade dos adolescentes e da necessidade de estarem em grupo para sentirem-se fortalecidos. Muitas vezes, em vez de relações sólidas, as sabemos “líquidas”, fáceis de desfazer, de escorrer, de escoar pelo ralo.
     Fica aqui o meu desejo: que essa nova forma de expressão retrate a alegria verdadeira dos nossos adolescentes.
     Que sejam ajudados realmente a formar um bom conceito de si mesmos. Que cresçam fortalecidos e saudáveis sabendo usar a tecnologia na medida certa, sabendo tratar-se bem, valorizando o certo, o justo, o respeito, sem depender da autorização das mídias sociais para serem felizes.

Rosângela Silva




sábado, 6 de setembro de 2014

Celular: condenado ou absolvido?

Celular: condenado ou absolvido?

     Pensar na qualidade de vida dos nossos adolescentes no que diz respeito ao uso do celular se faz muito necessário devido ao excesso de dependência que estão criando com esses aparelhos.
      Sou mãe de adolescente e tenho sofrido  para estabelecer limites para o seu uso e para desviar  a atenção da minha filha do celular.  Longe de mim, aqui,  apenas condenar e querer ir contra à tecnologia e todas as suas boas possibilidades.
     Acredito na aprendizagem através dos recursos tecnológicos, sou favorável ao uso das mídias sociais na sala de aula, estimulo o intercâmbio entre o real e o virtual em função da aprendizagem, entendo que os jogos virtuais são estimuladores de muitas habilidades motoras e intelectuais.
     A proposta aqui é falar do excesso, daquilo que caminha para o uso doentio e do uso descabido. É preciso pensar nas questões levantadas se quisermos conviver com adolescentes saudáveis e cheios de vida.
     O que leva uma  geração a  entorpecer-se pela sedução “fria” de uma tela de alta tecnologia, cheia de funções e designs diversos?
     Seria a falta de atividades mais interessantes, mais lúdicas, mais sedutoras tanto em casa como nos centros de aprendizagem que frequentam?
     O que fazer para que não  escondam-se  nesse aparelho de 20 por 15 centímetros recusando-se a entregar-se com atenção e afinco  nas tarefas que precisam ser feitas?
     Será preciso diminuir-lhes o excesso de autoconfiança e alta autoestima que os fazem achar que tudo vem fácil a eles e que são merecedores de tudo pronto e ao alcance das mãos?
     O que busca essa meninada que deixa-se enfeitiçar por aquela tela cheia de movimentos, cores e possibilidades ficando perplexa e abduzida como se tivesse perdido a capacidade de pensar e fazer escolhas?
     Seria a busca pelo seu espaço, uma vez que hoje os adultos facilitam tudo para eles, inclusive induzindo o jeito de pensar e de escolher?
     Como podem acreditar ser fácil manter relações através das telas, chegando a  perder o gosto pelo contato, pelo toque, pelo “estar junto”? 
     Seria pelo fato de terem aprendido apenas essa forma de se relacionar?
     Por que aceitam passar horas aprisionados entre quatro paredes, num falsa ilusão de conexão e interação, tentando acreditar que não estão sozinhos ou que têm um milhão de amigos?
     Seria pelo espaço enorme que os pais lhes dão e pela falta de tempo de dedicação para com eles?
     De que forma pensam  poder medir o afeto das pessoas, pela quantidade de “likes” obtidos numa foto? O que saberão sobre amizade real? Como resolverão seus conflitos sem olhar no olho do outro? Como aperfeiçoarão as suas percepções sensoriais sem sentir os cheiros com atenção, sem notar precisamente as cores, os gostos, sem atentar aos ruídos ao seu redor?
     Do único jeito que aprenderam sobre relações interpessoais. Até que resolvamos atentar e dar novos modelos de interação.
     Como suportam abdicar de seu sono, para gastar as horas da noite trocando mensagens, disfarçando a triste sensação de solidão ou talvez de ansiedade, resultando em fracasso nos estudos e nos afazeres escolares?
     Seria pela atenção recíproca que trocam, preenchendo assim as lacunas vazias deixadas pelas famílias e educadores? Seria porque muitos estão bem perdidos, sozinhos e abandonados dentro de casa, largados  à própria sorte?
     Que geração é essa que alucina-se pela “droga”  da tecnologia tornando-se dependente de suas ferramentas analgésicas? Será que sabem que  usam o celular como anestésico aos seus problemas do mundo real, diminuindo o contato com suas dores e certamente com  a possibilidade de resolvê-las?
    Uma geração que construiu uma forma diferente de receber atenção e que espera reações urgentes de seus educadores.
    Apontamentos feitos.
    Exagero?
    Loucura?
   Preocupação descabida?
Reforço que as questões aqui levantadas têm o intuito de levar pais e educadores à reflexão. Não são verdades absolutas, são apenas constatações fruto de observações, leituras e conversas com educadores e adolescentes.
   

 Rosângela Silva

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sensibilizar e fortalecer

Não há receitas prontas para educar os filhos, para fazê-los serem pessoas de sucesso, para transformá-los em  pessoas éticas.
Não há fórmulas certas, nem formas que possamos colocá-los e depois de um tempo brotar o sonhado filho.
Há sim atitudes e ações cotidianas que podem ajudar a formar um indivíduo mais atento, sensível e ético.
Como querer ter um filho sensível sem vivenciar sensibilidade?
Como sonhar com um filho ético, sem exercitar essa prática?
Como vislumbrar um filho empreendedor se tratá-lo como um “bebezão” incapaz?
Outro dia vi uma adolescente pedir para a mãe parar o carro para que fotografasse uma linda árvore forrada por um tapete de  flores no chão. A mãe parou! Era uma cena linda! Antes de fotografar a árvore realmente a menina, já a tinha fotografado na mente. Olhou, se sensibilizou, gostou do que viu e então veio o ato de fotografar para o registro.
A mesma menina foi premiada recentemente em um concurso de fotografias da cidade. Andava com o pai pela cidade, passaram por um lugar bonito, o pai chamou-lhe a atenção e sugeriu a foto. Ficou lindo o registro a ponto da foto ser premiada. Mérito só da garota?
Claro que não, se o pai não lhe mostrasse e não lançasse o desafio da foto, talvez ela sozinha não percebesse a beleza daquele momento.
Nesses dois exemplos fica clara a importância do “despertamento”, do incentivo, do “treinar o olhar” para as coisas belas que se expõe ao nosso redor.
Sem tempo para observar e conhecer os filhos não é possível transformar pequenos instantes em ricas aprendizagens de vida.
Sem disponibilidade para estar com os filhos e gastar nosso tempo com eles, não é possível entender como pensam e como resolvem seus conflitos.
Sem coragem para abdicar de si mesmo em favor da educação e fortalecimento dos filhos não é possível intitular-se pai ou mãe.

Rosângela Silva

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A cristaleira da minha avó

A cristaleira da minha avó
Rosângela Silva

     Algumas imagens adormecem em nossas memórias e são despertadas de repente quando situações da vida real a convocam. Dia desses, visitei a casa da minha tia Maria, onde muitos objetos da minha avó materna se encontram e sentei-me na mesa para o café da tarde. Num instante meu olhar parou em frente à velha cristaleira e meu pensamento voou ao passado.
     Cristaleiras são móveis mágicos, encantadores. Guardam coisas de valor, taças e copos especiais, suvenires trazidos de alguma viagem, mimos recebidos de alguém especial, miniaturas vindas de algum lugar. Cristaleiras adornam nossa casa e nossas emoções.
     Recordei então momentos da infância, quando aqueles pequenos objetos contidos pela cristaleira, guardados nela como preciosidades, me encantavam e me faziam mergulhar num mundo de fantasias sem igual.
       Hipnotizada por eles, meu olhar captava um por um. Em cada objeto uma viagem fantástica. Um jogo de café, com desenhos de flores azuis, hoje sem mais as xícaras que o acompanhavam, feitas em cacos, ao longo do tempo. Uma jarra de suco com seis copos com borda dourada, que eu acreditava ser desenhada realmente com ouro.
      Bichinhos de louça. Muitos deles: três gatinhos e três patinhos idênticos, galo, cachorrinhos muitos, um elefante vermelho, um burrinho de madeira carregado de lápis de cor.
      Muitas jarrinhas também de louça, copos e xícaras de diferentes tamanhos e diversos modelos.
      A cristaleira da vó Mariinha ficava na sala de uma casa com várias quartos, cozinha grande, copa, alpendre, janelas e portas amplas e chão assoalhado de madeira, à disposição de todos, mas permanecia trancada sempre. Só podíamos contemplar suas maravilhas do lado de fora, era como o fruto proibido.
      Antigamente as cristaleiras simbolizavam luxo e sofisticação. Eram símbolos de respeito e cuidado estabelecidos às crianças. Deve ser por isso que hoje embelezam as casas dando sensação de conforto, calor e aconchego.
      Da vó Mariinha, além da recordação da cristaleira, também é forte a lembrança das suas rezas diárias embaixo de cada oratório e imagens sagradas que ficavam expostos em  sua sala e do calor aconchegante das suas colchas de retalhos que me acolhiam nas manhãs geladas do inverno, quando eu despertava cedo do meu colchão de palha e corria para sua cama. Ali me aguardavam duas ou três balas doces debaixo do travesseiro e um aconchego caloroso, inesquecíveis.



quarta-feira, 16 de julho de 2014

Lições da Copa

       A copa do mundo acabou e deixa várias lições para todos nós.
      Comparar o jogo no campo de futebol com a vida, com a sala de aula e com os ganhos e perdas que nos acompanham sempre é uma tarefa que nos leva a aprendizagens diversas. 
      Na família, no trabalho, nas relações de amizade, na escola sempre aprendemos grandes lições de como formar um bom time para vencer os obstáculos e atingir juntos nossos objetivos. Nessas relações nem sempre ganhamos, acertamos  ou somos aceitos com nossa forma de ser e agir e aí está a fórmula para se aprender sobre convivência.
     Mesmo vivendo em grupo na maioria do nosso tempo, muitas vezes nos vemos em disputas e competições que nos afastam e nos fazem compor um grande time de narcisistas, cada um pensando em brilhar mais que o outro.
     Pensar alguns comparativos dos jogos com a vida nos alimenta para o enfrentamento das ocorrências diárias.
     Hoje o mundo cobra das pessoas que desempenhem bem várias funções. Não dá mais para contratar aquele funcionário que só sabe fazer  bem um único trabalho. Nos bancos escolares os educadores esforçam-se para estimular nos alunos o treinamento de várias habilidades. Então, copiemos  o jogador alemão Schweinsteiger que atuou em campo desempenhando várias funções, indo da defesa ao ataque.O craque não ficou preso apenas às tarefas da sua posição. Foi além, ousou, criou,foi multifuncional.
      A sociedade impõe regras e normas de convivência, mesmo assim, às vezes há injustiças  e erros em nosso meio. Não devemos esmorecer. Assim como Messi não deveria ter ganho a bola de ouro como melhor jogador da copa, também presenciamos situações equivocadas e  não podemos nos desestimular ou paralisar. É preciso agir independentemente das adversidades.
     Neuer sim, mereceu ser eleito o melhor goleiro da copa. Ousado pelas jogadas arriscadas que faz, não se limita a esperar os ataques do adversário, está sempre estudando os passes e fazendo lançamentos certeiros, atuando como se fosse  mais um jogador em campo somando aos seus outros 10 colegas de linha. Assim devemos nos espelhar no goleiro-linha em nossas jogadas na vida, não dá para ficar parado esperando o adversário e a bola chegarem. Sejamos ousados e criativos em nossa trajetória.
     As novas exigências do mercado cobram organização e planejamento das empresas e seus funcionários. Como conviver com chefes que não planejam, não estudam seus projetos, não promovem treinos constantes e “apertados” e não têm plano B? A teimosia e inflexibilidade do nosso técnico Felipão mostraram que nenhuma equipe vai longe sem estudo, planejamento e treinamento. Bons resultados não nascem apenas da confiança.
     Nossa seleção deixou muitos espaços vazios, mostrando falta de entrosamento, de treino e de organização. Times bons fecham combinados, combinam  jogadas, dedicam-se às tarefas e suam a camisa até o final do jogo.
     Outra lição é que a experiência nem sempre é tudo.  Bastou a menino Mario Götze sair do banco de reservas, treinado, confiante, seguro para marcar o gol do título. Uma equipe otimista e incentivada, preenche os espaços vazios com seriedade e comprometimento.
    Perder a copa é triste. Mais triste ainda é saber que amanhã os jogadores e administradores da seleção não vão saltar da cama cedo, destinados a começar uma nova etapa com garra  e vontade de vencer como fazem milhões de brasileiros, campeões na disposição e na coragem.



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Os 80 anos da Tia Lica



     Filhos nascidos dela mesma foram 6:  Benedito, Raimundo, Regina, Cida, Clarice e Alice, mas são muitos os que ela adotou, cuidou, criou, orientou e mostrou o mundo.
     Minhas memórias não conseguem voltar muito atrás, mas o que me lembro é de uma mulher forte, com liderança aprendida da necessidade, falante, boa negociadora, ímpar como gerenciadora de conflitos, mulher de atitude e de fibra.
      O pouco estudo e letramento não foram suficientes para colocar-lhe barreiras na vida. Criou e estudou os filhos, deu de comer e de vestir a eles e a muitos agregados que chegavam às suas portas. Trabalhou duro, incentivou o crescimento de muita gente, pôs juízo na cabeça de muitos.
      Sempre altiva e autoritária, não dava muitas brechas ao acaso. Decidia, mandava, imperava em sua casa, com os filhos e demais pessoas da vizinhança. Até hoje sabe debater e argumentar muito bem e é capaz de ganhar as discussões com poucas palavras.
     Sua casa era grande no tamanho e no aconchego, estava sempre cheia, muito falatório, assunto que não acabava mais. Um lugar quente, acolhedor, que fartava de colo e ensinamentos.
      Ensinamentos vindos das conversas, das orientações e até das broncas. Broncas, muitas broncas nos filhos, às vezes teimosos, nos sobrinhos que saíam fora do trilho, na molecada da vizinhança que não parava de fazer arte e causar aquelas brigas comuns da infância,  nos funcionários que não trabalhavam direito.
      Ensinamentos vindos dos aconselhamentos e que se revelavam importantes quando adentrávamos em sua sala e nos deparávamos com uma longa estante repleta de livros. Ali ficava um mundo de conhecimentos e possibilidades  que levava a mim e a tantos outros para além das fronteiras da fazenda onde morávamos. Aprendi muito ali, com os livros e com ela.
     Ela mesma aprendeu a gostar de ler. Muitas vezes ao chegar em sua casa, lá estava ela com os livros na mão. É bem verdade que a enxada e os livros  moldam as pessoas para o bem. Disso não tenho dúvidas.
      Em minha memória também recordo das festas em sua casa. Almoços de domingo, amigos secretos, festas de Natal e comemorações juninas são as maiores lembranças.
      Dos almoços de domingo lembro da mesa longa, coberta por toalhas coloridas, cheia de comes e bebes e todos sentados em volta. Alguns descansando na grama. Dos amigos secretos, a lembrança vem das risadas e ironias na hora da revelação. Dos Natais, recordação da árvore enfeitada com lâmpadas coloridas e com as iniciais FSI. Das festas juninas, as rezas, o levantamento do mastro com os três santos abençoando a festança, pau de sebo, a fogueira, as danças e as músicas.
      Fazer festa sempre tem um significado de abrir-se para as pessoas, de ser receptivo às amizades, de trazer as pessoas e as conversas para si e dar-lhes acolhimento. Deve ser também por isso que ela, em qualquer idade que tivesse, sempre soubesse receber e acolher as pessoas.
      Imagino quantas vivências guarda a sua memória: ganhos e perdas, alegrias e tristezas, festas e lutos, risos e choros, momentos de ser fortaleza e momentos de ser escombro, de onde ensinou o maior exemplo de todos: saber se reerguer e recomeçar.
      Parabéns Tia Lica, por  extrair saberes e aprendizagens das mais simples experiências.
      Parabéns por ter compartilhado os seus conhecimentos comigo e com tanta gente.
      Parabéns por ter sido esteio e fortaleza para tantos que aportaram em sua casa.
      Parabéns por estar presente por tantos anos em nossas vidas.

                                                                               Maria Rosângela da silva


domingo, 18 de maio de 2014

As crianças e as brigas em família

As crianças e as brigas em família
Maria Rosângela  Silva

       Brigas em família. Ninguém escapa delas.  A família pode ser pequena ou grande,  rica ou pobre, educada na religião ou não, unida ou desunida, pacata ou festeira. Os motivos são os mais variados. A convivência diária faz com que conheçamos melhor as pessoas.  Por outro lado, também faz com que esbarremos em algumas manias, teimosias, atitudes egoísticas, cobranças e conflitos que levam a discussões, ofensas e até ao corte de relações entre as pessoas.
       Os conflitos , especialmente os familiares, chateiam, entristecem, magoam. Podemos pensar nos conflitos sempre como ruins ou tentar enxergar o que podem trazer de bom. Acredito que os conflitos não sejam tão ruins assim. Muitas vezes, eles servem para por um basta em alguma situação de abuso de poder, de exploração, às vezes servem para reorganizar relações desgastadas, para limpar assuntos mal resolvidos, para alinhar pontos de vista.
       O tempo ajuda o conflito e apazigua os corações. O importante é que as pessoas se revejam, busquem encontrar seus erros e corrigi-los, refaçam a cena da briga mentalmente e procurem pensar no que poderiam ter feito ou falado de modo diferente e mais importante, que abram-se para a reconciliação.
       Pessoas maduras  têm condições emocionais para sentar, conversar e remodelar a relação. É muito preocupante quando crianças são envolvidas no conflito e ficam a mercê dos comportamentos de adultos ressentidos, que se tornam endurecidos e ensinam às crianças que não se deve voltar atrás, que pedir desculpas é humilhante, que desculpar alguém que nos magoou significa rebaixar-se.
       Triste que crianças sejam envolvidas em conflitos familiares e sejam estimuladas  a desviar de um avô, a baixar os olhos para um tio, a mentir para um pai, a enganar uma avó, a cortar relação com uma prima querida.
       Claro que é preciso considerar os casos criminosos, dos quais a criança fica protegida quando afastada de familiares abusivos, de mau caráter e pouco confiáveis. Nessas situações não é seguro expor a criança.
       Tirando essas situações sérias, doídas e sem chance de retorno, as crises familiares sempre existiram e vão existir para ensinar sobre reconciliação, sobre encontrar um jeito de fazer as pazes, de restabelecer o congraçamento entre entes queridos.
       Família  é porto seguro, lugar de colos, abraços e ajuda nos momentos difíceis.




sábado, 10 de maio de 2014

Eu e minha caixa

Eu e a minha caixa
Maria Rosângela Silva 

Dia das Mães na escola. Talvez a última homenagem preparada na escola, já que a Raphaela está no último ano do Ensino Fundamental e ano que vem, no Ensino Médio não haverá espaço para essas homenagens.
São tantas as lembranças que guardo : a caixinha com frases escritas só para mim impregnada com o cheiro do meu perfume, a fotografia tirada após a Raphaela ter me enfeitado com adereços, a caixa de sapatos decorada com nossas fotos, o caderno de receitas que reuniu as comidas preferidas das mães do Pré, a tela “Borboletas azuis da felicidade”, o cartão extraído da exposição de quadros “Tarsila do Amaral” mostrando as telas da artista ligadas à maternidade, as brincadeiras da oficina corporal “Vivendo e aprendendo a jogar”, as massagens ao som de músicas deliciosas,a caixinha de madeira pintada com flores (Eu vejo flores em você), a folha de scrapbook decorada por nós duas no ano passado...
A primeira delas, no maternal da tia Darcy Krahembüll, como esquecer? Uma composição de tecidos montando uma cena de mãe e filha sobre um pedaço de estopa. Para mim a mais linda tapeçaria que alguém poderia criar, e que está pendurada na porta do meu quarto até hoje.
A caixa deste ano teve um gostinho de despedida e a saudade já começa a apertar... Raphaela teve que compor uma caixa com objetos e coisas que me representam, que dizem quem eu sou. Ela teve que me inventariar, me pesquisar, viajar por mim e até fazer umas escavações para procurar as preciosidades que eu guardo, que eu valorizo, que me trouxeram e ainda trazem lindas recordações, que são significativas para mim. Na verdade ela teve que buscar as coisas sagradas que habitam em mim.
E lá estavam uma echarpe que gosto na cor verde, um relógio (um opressor que me chicoteia o dia todo), uma mandala que ganhei há muito tempo atrás das mãos de D. Sônia Gonçalves, folhas, flores, pedras e penas recolhidas do chão e que guardo numa caixinha como reverência à natureza (gesto compartilhado com a Raphaela), uma pequena bíblia em frases, vidrinhos coloridos e um pequeno massageador, talvez para me lembrar que preciso me acalmar e ser mais paciente.
Tudo isso aqui exposto para falar da minha relação com minha filha? Da minha alegria em ser mãe? Para exibir uma suposta relação perfeita entre mãe e filha para as redes sociais?
Tudo isso para falar do significado dos presentes e das marcas que eles deixam.
Bombardeadas pelo consumismo e pelo enaltecimento do egocentrismo, as crianças de hoje querem muito receber e sabem pouco sobre o “oferecer”. Acredito que esse exercício de confeccionar artesanalmente o presente empurra a criança para pensar no outro, para entender o significado da palavra construir, para o treino do “olhar para fora de si mesma”.
Como mãe estou satisfeita com todos os presentes que ganhei até hoje através da escola. Não são luxuosos, não têm grande valor material, não ficaram expostos em vitrines bonitas, talvez não satisfizessem o ego de uma mãe muito pretensiosa e consumista. Mas eu fico aqui pensando no quanto esses presentes falam de mim e do quanto contribuíram para enlaçar minha relação com minha filha.
E para mim isso já basta porque são presentes que falam de relações, de sermos humanos, de viver essa linda e complexa relação de sermos mãe e filha.

domingo, 16 de março de 2014

Internet segura

Revista endereçada às crianças e adolescentes produzida por Moacir Torres e Cybele Meyer. Apoio Colégio Escala- Indaiatuba.

Pais: espectadores na arquibancada


Os filhos crescem e crescem com eles nossas angústias e preocupações. A adolescência chega e as dúvidas paternas aumentam muito. A cada dia, um novo dilema para administrar e  novas questões para avaliar junto com os filhos. Ser mãe e pai de adolescente é embarcar numa montanha russa a cada novo dia. Desafios radicais surgem a cada volta que os ponteiros dão.
Soltar os filhos para viver as aventuras desta vida é inevitável. Se dependesse dos pais, os deixaríamos quietinhos, acolhidos, abraçados pela nossa proteção para sempre.
Mas vem a vontade de sair de casa com os amigos, de experimentar as novidades, de ser livres e poder fazer suas escolhas. E nós, do outro lado, assistindo na torcida, espectadores na arquibancada, sem poder participar diretamente do jogo. Coração apertado, nó na garganta, “bolo” no estômago. É o corpo dando sinais da nossa dor emocional.
E nós precisamos acreditar, confiar, dar segundas, terceiras e quartas chances, afinal somos apenas guardiões preocupados, pois a vida e as escolhas são  deles, embora entrelaçadas e repercutindo nas nossas.
E nós precisamos aprender a conviver com  o coração pulsando constantemente fora do corpo. Ele não nos pertence, é de nossos filhos. Está onde eles estão. Bate no compasso das suas escolhas.
Ah! Se pudéssemos soprar baixinho em seus ouvidos, qual rumo tomar, quando estivessem duvidosos...
Ah! Se pudéssemos dizer “escolhe isso, em vez disso” quando a emoção quisesse falar mais do que a razão...
Ah! Se pudéssemos apontar a saída de emergência, quando a neblina de fumaça tentasse embaçar sua visão...

Nem sempre estaremos lá. E junto com todas as orientações e conselhos esbanjados gratuitamente a cada beijo de despedida, pedimos aos anjos a proteção final. É o que nos resta.

Maria Rosângela Silva