sexta-feira, 17 de abril de 2020

Lições que eu já sabia antes do coronavírus;


Lições que eu já sabia antes  do coronavírus
Rosângela Silva

Lição 1- É preciso amar e respeitar a natureza- Nascida e criada na roça a natureza é sagrada pra mim. Onde encontro paz e acalento.  Lugar onde me reencontro e ressignifico meus valores. E agora longe da ferocidade humana em devastar, poluir,  extrair, a natureza se refaz em tantos lugares e de tantas formas....

Lição 2- É preciso consumir menos- Pra quê tanta gente correndo ao mercado e estocando produtos? Pra quê tantas pessoas ainda não entendam que a essência está do lado de dentro? Por que não se render ao fato de que há muita coisa que o dinheiro não compra? Nunca fui consumista, não sou deslumbrada por marcas, uso o que tenho até o seu fim , repito e reaproveito muita roupa. Talvez o momento esteja ensinando grandes lições.

Lição 3- É preciso poupar hoje para ter amanhã- Poupe, não gaste tudo que você ganha, faça uma poupança, tenha uma reserva... Dias difíceis poderão chegar... Lições que aprendi com meus pais.

Lição 4- É preciso repartir melhor as riquezas e bens produzidos.  A desigualdade sempre existirá e não dá para sonhar em igualdade num mundo tão diverso. Mas haveremos de lutar para diminuir os espaços entre as camadas sociais promovendo maior mobilidade social, especialmente para as pessoas menos favorecidas. Já 1908, Schumpeter dizia ”Ninguém dá importância ao pão pela quantidade de pão que existe num país ou no mundo, mas todos medem sua utilidade de acordo com a quantidade disponível para si, e isso, depende da quantidade total”.

Lição 5- E preciso educar emocionalmente as pessoas- As pessoas só dão aquilo que têm, e  elas têm aquilo que lhe foi ensinado, mostrado, reforçado... Sendo assim, não dá para pedir solidariedade a quem é egoísta, não dá pra esperar companheirismo a quem é egocêntrico, não dá pra esperar organização de quem é desorganizado, não dá para receber pontualidade de quem não lida bem com o seu tempo.
Em tempo de doença, guerra, escassez e economia queremos ver a solidariedade brotar e parece que está até frutificando, haja vista os inúmeros exemplos noticiados... No mundo não há tanta gente má como pensávamos.

Lição 6- É preciso estar atento à política – Estejamos atentos à essa ciência  que administra e organiza nações e estados. O poder, esse desejo de manter e ter a autoridade nas mãos é extremamente contagioso. Quem está no poder fará de tudo para ficar e quem não está, fará de tudo para entrar. Cuidado com o que você ouve, vê, acredita, expõe, defende. O tiro pode sair pela culatra.

Lição 7- Fumar é prejudicial à saúde!

Tenho certeza de que virão outras lições daqui uns dias.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

A "brincadeira" da rasteira


A "brincadeira" da rasteira
Rosângela Silva

Viralizou na internet nos últimos dias, vídeos em que dois amigos enganavam e passavam uma rasteira num terceiro colega. Isso acontecia muitas vezes em escolas, em suas próprias casas ou em encontros e festas. Há cenas de filhos fazendo isso também com suas mães. São cenas chocantes e de entristecer.
Atitude de muito mau gosto e que revela pouca empatia, muitos de nós, educadores, nos pusemos a refletir com nossos alunos sobre o fato.
Rapidamente as escolas reagiram e começaram  a trabalhar com a educação emocional dos estudantes. Os pais atentos e que acompanham de perto seus filhos também começaram um trabalho de orientação e conscientização. Assim, em paralelo à brincadeira, também viralizaram muitas ações contrárias, positivas, apelando para o companheirismo, para o cuidado com o outro, para as ações afetivas.
É verdade que há muito egoísmo, maldade, enganação, e literalmente “passadas de rasteira” em nossa vida cotidiana.
Quem não viveu uma passada de rasteira na vida, de amigos, de familiares, de colegas de trabalho, dos nossos governantes?
Tudo isso é preocupante, é grave, mas nem por isso, nós adultos emocionalmente saudáveis, conhecedores e praticantes das leis , saímos por aí dando o troco e exercitando o código de Hamurabi (olho por olho, dente por dente).
É verdade que prolifera na sociedade a lei do mais forte sobre o mais fraco, do mais rico sobre o mais pobre, daquele  que tem mais poder sobre o que não o tem. E é certo que há muita gente reagindo contra isso.
Quem consegue perceber isso nos noticiários e conversas cotidianos?
É verdade que há uma onda para que as minorias não sejam notadas, nem ouvidas. E é verdade que há muita gente trabalhando para reverter isso.
Eduquemos nossas crianças e suas famílias. Como escola,  não podemos fugir desse árduo compromisso.  Assim,  começamos por mudar nosso bairro, nossa comunidade, nossa cidade, convivendo e colhendo os frutos do nosso trabalho nos nossos arredores.
Sim, se todos trabalharem a cultura da paz, forjaremos seres humanos melhores, que estarão consequentemente praticando ações saudáveis no nosso entorno.
Trabalhemos para que assim seja!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Qual é o seu propósito?


Qual é  o seu propósito?
Rosângela Silva



 Em qualquer área da vida o propósito é aquilo que rege nossas ações. Propósito  é a intenção, o designo, a finalidade, o intuito que se tem antes de começar algo.
Como a especialidade aqui é falar de educação, o  foco da reflexão é olhar para os educadores e  escolas e promover pensamento quanto à coerência entre  seus propósitos  e suas realizações.
Em relação aos professores toda ação começa com pesquisa, estudo, busca, levantamento de dados, seleção de prioridades e planejamento. Não obrigatoriamente nesta ordem citada.
O que vou ensinar? Como vou ensinar? Que ferramentas  ou metodologias vou empregar nesta tarefa? Como  o aluno vai interagir com essa proposta? E como vou avaliar? Tenho elementos suficientes sobre a turma para iniciar tal tarefa? Preciso adaptar algo para algum aluno? Quantas aulas julgo suficientes para desenvolver essa programação? Tenho os materiais de apoio disponíveis para essa aula ou tenho que prepará-los?
A lista acima é pequena diante de tantas questões que envolvem o preparo de uma aula. Muitas aulas são desastrosas ou mal dadas porque o professor chega à sala sem propósitos definidos. E sem uma aula bem estrutura da ou sem saber o que  o professor espera dele, o estudante vai enveredando para outros centros de interesse.
Falando das escolas, o propósito é também importantíssimo para definir seu papel na sociedade e especialmente na comunidade em que atua.
Qual meu propósito? Que clientela atendo? O que buscam nesta unidade escolar? Quais seus valores?  Que pontos foram relevantes para a escolha feita pelo cliente? Como preparo minha equipe para atender essa clientela? Que combinados e limites estabeleço diante do grupo que atendo? Como mantenho o grupo que comprou meus serviços motivado, atuante e fixado  nesta escola? Fazemos qualquer negócio para a retenção do  cliente? Sigo uma linha de coerência entre meus serviços e aquilo que entrego? Como vendo meus serviços? Aceito todos os alunos ou faço seleção de perfil? Quero ser vista como escola tradicional ou contemporânea? Sigo as tendências educacionais por acreditar nelas ou para me equiparar ao concorrente?
De todas as questões levantadas aquela que pode abraçar todas as demais é a que responde sobre o propósito, pois com essa clareza  todo o gerenciamento do cotidiano deve girar na manutenção de coerência entre o que se propõe e como se atua.
Quantas escolas falando de afetividade, sem proximidade com os alunos?
Quantas divulgando aulas práticas, mas executando só as teóricas?
Quantas intitulando-se bilíngues, sem ser de fato?
Quantas valorizando o  protagonismo do aluno, mas centralizando a aprendizagem somente no professor?
Quantas inspirando-se nas  múltiplas inteligências,  mas exigindo do aluno apenas o conhecimento acadêmico?
Quantas falando em construção do conhecimento, sem dar oportunidade do aluno integrar o conhecimento do seu meio?
Quantas dizendo sobre a interação social operando diariamente com carteiras enfileiradas?
Quanta incoerência! Quanta falta de intencionalidade!
E aí, qual é mesmo o seu propósito?


segunda-feira, 8 de abril de 2019

Quando gira a maçaneta da porta


Quando gira a maçaneta da porta
Rosângela Silva

Quando a filha (poderia ser um filho)  avisa que vai sair um frio percorre toda minha coluna cervical e eu junto com uma imensidão de outros pais pensamos “hoje será uma daquelas noites mal dormidas e repleta de preocupação, sono picado, olhar preso ao celular, ligações para saber como eles estão por horas a fio.
A preocupação invade o coração e começamos com as boas vibrações, na certeza de que vão saber fazer boas escolhas e cercar-se de gente boa.
O mundo que nos rodeia está perigoso, repleto de gente egoísta, narcisista, preconceituosa e maldosa. As drogas comprometem o bom discernimento, as bebidas dão ousadia para ações que não aconteceriam em estado normal, a falta de respeito e empatia validam agressões. A valentia exigida pela sociedade não aceita levar desaforos para casa. A desvalorização das minorias permitem açoitar o outro com palavras, gestos e atitudes despudoradas.
Dito isso, quando eles retornam para casa sãos, salvos e cheios de aventuras para contar podemos abraçá-los e desacelerar nossos corações preocupados.
Damos atenção às suas experimentações e eles pouco percebem das “nossas grandes aventuras” que fazem o coração quase sair pela boca: levar a trupe para uma festa pela estrada de terra escorregadia com o  barro da chuva que acabava de cair a quilômetros da sua casa; ser parada por uma blits da polícia em plena madrugada só de pijama (não vestindo as peças íntimas), pegar a pista em plena madrugada guiada pelo GPS do celular, sair de casa às 4 e trinta da madrugada, percorrer as ruas desertas da cidade para pegá-los eufóricos numa festa do outro lado do mundo, receber o áudio de sua filha chorando nervosa por ter sido deixada pela carona e ter pego um motorista da uber que a aterrorizou junto com suas amigas, tendo que esperar horas para que chegassem sãs e salvas pela ação da polícia.
É temos que ter um coração bem forte, resiliente e amoroso. Por isso digo, quando gira a maçaneta da porta é puro alívio. A filha (O filho)  chegou em casa do passeio escolhido.
Quando gira a maçaneta da porta agradeço a Deus por ter trazido minha “eterna criança” ao aconchego do nosso lar.
Quando gira a maçaneta da porta pergunto se existem mães-pais que dormem despreocupadamente.
Quando gira a maçaneta da porta abraço e beijo mentalmente minha cria, meu maior tesouro.
Quando gira a maçaneta da porta meus medos e fantasmas dão trégua ao meu coração e à minha mente, mesmo que momentaneamente.
Quando gira a maçaneta da porta posso entregar-me ao sono profundo. Não sem antes, ainda permanecer alerta para ouvir suas narrações que, mesmo caindo de sono, escolho escutar para saber mais e mais da sua vida.
Agradeço que ela escolha me contar das suas vivências e eu possa opinar e aconselhar ciente de que confia em mim e aceita minhas censuras e orientações.
Agora então, boa  noite e bons sonhos para todos os pais aflitos. Semana que vem tem mais...




Somos modelos sim!


                                  Somos modelos sim!
                                          Rosângela Silva
Incrível como  vamos percebendo em pequenos detalhes como influenciamos as pessoas ao nosso redor, especialmente as crianças.
Da mesma forma que as observamos para as compreendermos melhor, elas em nós reparam para  também entenderem as nossas ações.
Elas nos observam, nos admiram, nos repetem...
Dias atrás quando dirigia para casa em companhia da minha filha, escutamos o barulho da sirene e era o carro do Corpo de bombeiros em disparada. Ela então, falou “ Deus abençoe, tomara que não tenha acontecido nada grave”. Fiquei muito surpresa,  pois essa fala sempre foi minha e agora ela também  faz uso dela.
Também tempos atrás fui no aniversário da minha sobrinha Kelryn. Acabei de chegar e ela perguntou: “__ Hoje tem textão, tia?”, referindo-se à minha mania de escrever algo para os aniversariantes da família. Mas o que me deixou mais feliz foi que em cima do bolo  estava a vela do seu batizado. Ela também aderiu ao meu ritual de colocar em cima do bolo, além da vela da idade, a vela do batismo. Uma tradição que faço desde o 1º ano da minha filha Raphaela.
Pequenos gestos e palavras reforçam que estamos sendo observados o tempo  todo. As crianças observam para compreenderem  o mundo ao seu redor e vão buscando respostas para as suas dúvidas e incompreensões nas pessoas mais próximas a elas.
E indo mais longe, torna-se preocupante o que as crianças estão colhendo em suas observações ... 
Que percepções estão captando em seu meio familiar?
Que respostas estão tendo quando observam sobre justiça, ética e verdade?
Que modelos estão copiando quando investigam a respeito de política, tecnologia e solidariedade?
Que reações têm obtido quando observam sobre o respeito às minorias, aos pedintes na rua e aos idosos?
Que ideias estão compartilhando sobre administração de conflitos, retomada e revisão de erros, capacidade de tolerância?
Lembremos: elas nos observam, nos admiram, nos repetem...



Filhos na estrada da vida


Filhos na estrada da vida
                                                          Rosângela Silva

O professor de reforço diz à mãe: “Seu filho é inteligente, capaz, mas está muito vadio”.
A mãe tinha duas escolhas: entender o vadio como uma ofensa e desqualificação do seu menino  e fazer um grande escândalo ou  chamar o filho para a conversa, reforçar o que o professor disse e cobrar dele para que deixe de vadiagem.
Ser vadio na fala do professor queria dizer que ele não se esforça, deixa tudo para depois, procrastina, não se dedica aos seus deveres.
A palavra do professor é forte, mas os pais precisam também ser fortes para aceitarem os defeitos dos seus filhos. Defeitos que podem ser momentâneos se foram tratados, mas poderão ficar crônicos, se forem negligenciados.
Não tomar os defeitos do filho para si, chocando-se e tentando oprimir quem quer lhe educar é um bom caminho para fortalecer hábitos saudáveis na educação dele.
Nesta situação creio que cabe à mãe associar-se ao professor e cobrar diariamente os esforços do filho.
Não “acoitadar” o filho, nem apequenar seus valores é um bom caminho para educá-lo.
Pais, mães, em nome da educação futura de seus filhos, parem de “mi-mi-mi”.
Pais, mães: parem de apoiar as faltas dos seus filhos.
Pais, mães: parem de dar colo quando  precisariam de rigor.
Pais, mães: parem de abraçá-los quando precisam de afastamento afetivo.
Pais, mães: parem de mimá-los quando precisam de repreensão.
Pais, mães: parem de apoiar as faltas dos seus filhos.
Ajudar os filhos a crescerem e enfrentarem os dissabores da vida, dá a eles suporte para encararem  os desafios , suportarem as frustrações e crescerem indivíduos mais saudáveis e aptos para caminharem pela estrada da vida.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

As crianças e suas percepções


                                              As crianças e suas percepções
                                                          Rosângela Silva
“__ Mãe, tem uma tia na minha escola que eu acho que é uma fada. Mãe ela tem os olhos coloridos e o cabelo prateado e ela anda assim...”

     Quanta responsabilidade temos com nossas crianças.
     Ao olharem para nós são capazes de lançar um raio X penetrante que capta nossos mais profundos segredos. Através desse poderoso raio X, elas sabem nosso estado de humor, conseguem perceber que emoção estamos irradiando, sentem nossa energia, medem nossa vontade de realização, entendem nosso cuidado com tudo aquilo que está em nosso entorno. Acredito que ao olharem para nós, elas são capazes até de desnudar a nossa alma.
     Quanta responsabilidade colocar um filho no mundo!
     Quanta responsabilidade escolher a profissão de professor (prefiro dizer educador)!
     Quanta responsabilidade aceitar trabalhar com crianças, seja em que função for!
     E é obrigação do educador, seja ele pai, mãe, professor, cuidador ou babá,  estar atento ao que provoca em seus educandos, cuidando de passar informações  positivas, corretas, justas através das suas falas, ações e gestos.
     Somos referência quando opinamos, quando fazemos expressões faciais ou corporais de aprovação ou reprovação a alguma situação cotidiana, quando nos indignamos com algum comportamento.
     Somos referência quando dominamos o conhecimento da nossa profissão, fazendo colocações interessantes e que levam o aluno a pensar e comungar daquele saber.
     Somos referência através do nosso jeito de advertir, de citar exemplos reais e esclarecedores,  de solucionar problemas.
     Somos referência através de uma fala afetiva, de um gesto inesperado, que surpreende e permite que o aluno amplie sua visão do mundo.
     Somos referência quando discordamos dos padrões impostos, quando trazemos assuntos polêmicos e atuais para a sala, quando conseguimos mostrar na vida, para que aquele conhecimento serve.
     Somos referência quando nos emocionamos, quando vibramos com alguma conquista  na turma, quando traduzimos em experiência concreta os temas a serem estudados.
     Somos referência quando dizemos “Você pode!”, “Isso ficou muito bom!”, “Vou fazer junto com você”, “Você é melhor do que isso”,“Eu mereço sua atenção agora”, “Estou com você”, “ Não admito isso!”, “Comigo você não faz assim”.
     Falas firmes, ações coerentes e justas , olhares penetrantes, gestos amorosos, carregados de afeto ou de indignação, se for necessário, mas que transmitem seriedade no trabalho, amor pelo alunos,  importância pelas propostas trazidas, tornam o professor uma referência ímpar.
     Sigamos com nossa tarefa de transformar o mundo, começando pela nossa casa, nossa rua, nossa escola.