segunda-feira, 8 de abril de 2019

Quando gira a maçaneta da porta


Quando gira a maçaneta da porta
Rosângela Silva

Quando a filha (poderia ser um filho)  avisa que vai sair um frio percorre toda minha coluna cervical e eu junto com uma imensidão de outros pais pensamos “hoje será uma daquelas noites mal dormidas e repleta de preocupação, sono picado, olhar preso ao celular, ligações para saber como eles estão por horas a fio.
A preocupação invade o coração e começamos com as boas vibrações, na certeza de que vão saber fazer boas escolhas e cercar-se de gente boa.
O mundo que nos rodeia está perigoso, repleto de gente egoísta, narcisista, preconceituosa e maldosa. As drogas comprometem o bom discernimento, as bebidas dão ousadia para ações que não aconteceriam em estado normal, a falta de respeito e empatia validam agressões. A valentia exigida pela sociedade não aceita levar desaforos para casa. A desvalorização das minorias permitem açoitar o outro com palavras, gestos e atitudes despudoradas.
Dito isso, quando eles retornam para casa sãos, salvos e cheios de aventuras para contar podemos abraçá-los e desacelerar nossos corações preocupados.
Damos atenção às suas experimentações e eles pouco percebem das “nossas grandes aventuras” que fazem o coração quase sair pela boca: levar a trupe para uma festa pela estrada de terra escorregadia com o  barro da chuva que acabava de cair a quilômetros da sua casa; ser parada por uma blits da polícia em plena madrugada só de pijama (não vestindo as peças íntimas), pegar a pista em plena madrugada guiada pelo GPS do celular, sair de casa às 4 e trinta da madrugada, percorrer as ruas desertas da cidade para pegá-los eufóricos numa festa do outro lado do mundo, receber o áudio de sua filha chorando nervosa por ter sido deixada pela carona e ter pego um motorista da uber que a aterrorizou junto com suas amigas, tendo que esperar horas para que chegassem sãs e salvas pela ação da polícia.
É temos que ter um coração bem forte, resiliente e amoroso. Por isso digo, quando gira a maçaneta da porta é puro alívio. A filha (O filho)  chegou em casa do passeio escolhido.
Quando gira a maçaneta da porta agradeço a Deus por ter trazido minha “eterna criança” ao aconchego do nosso lar.
Quando gira a maçaneta da porta pergunto se existem mães-pais que dormem despreocupadamente.
Quando gira a maçaneta da porta abraço e beijo mentalmente minha cria, meu maior tesouro.
Quando gira a maçaneta da porta meus medos e fantasmas dão trégua ao meu coração e à minha mente, mesmo que momentaneamente.
Quando gira a maçaneta da porta posso entregar-me ao sono profundo. Não sem antes, ainda permanecer alerta para ouvir suas narrações que, mesmo caindo de sono, escolho escutar para saber mais e mais da sua vida.
Agradeço que ela escolha me contar das suas vivências e eu possa opinar e aconselhar ciente de que confia em mim e aceita minhas censuras e orientações.
Agora então, boa  noite e bons sonhos para todos os pais aflitos. Semana que vem tem mais...




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