quinta-feira, 13 de setembro de 2018

É verdade esse “bilete”



É verdade esse “bilete”

Rosângela Silva


Viralizou na internet o bilhete do menino Gabriel Lucca de 5 anos anos, que numa mistura de esperteza com ingenuidade ou criatividade com inteligência, forjou o bilhete como sendo da sua professora Paula.
O desejo de faltar à aula e “ficar de boa” falou mais alto, e ele na sua inocência de criança foi deixando pistas da inverdade contida ali. O caso virou meme, piada, crítica social e política  e contagiou muita gente. Ele traz em si a oportunidade de falarmos sobre a verdade e a mentira na ótica das crianças.
Para clarear podemos usar os estudos de Piaget que  nos traz  um melhor entendimento sobre as fases da moralidade.
Piaget argumenta que o desenvolvimento da moral abrange três fases: a anomia, quando a moral não se coloca, nem se faz presente, sendo as ações da criança regidas pelas necessidades básicas, pois ainda não há consciência do que se é certo ou errado. Um pouco depois, por volta dos 9 – 10 anos de idade, o raciocínio é heteronômico, ou seja, a regra é levada muito a sério e com uma boa porção de inflexibilidade. No final vem a autonomia, quando se percebe que o respeito às regras é feito por meio de acordos e que as regras não devem mudar apenas para atender aos próprios anseios.

É bem verdade que muitos adultos, mesmo na fase da autonomia, ainda precisam ser cobrados tantas vezes.
É bem verdade que, mesmo na fase da autonomia, muitos os políticos desconhecem valores importantes para administrar nossas cidades, estados e país.
É bem verdade que, mesmo na fase da autonomia,  muitos profissionais mostram-se desatentos e irresponsáveis com suas tarefas.
É bem verdade que, mesmo na fase da autonomia, alguns pais e educadores também descumprem regras e quebram acordos.

Mas voltemos a falar das crianças... Pequenas e genuínas, elas  replicam os padrões da sociedade.
Elas buscam caminhos próprios para solucionar desafios e dificuldades.
Elas procuram saídas "mais fáceis" e ingênuas que, nós , com nossa “adultice”, já perdemos.
Elas encantam com sua simplicidade e nos ensinam sobre verdades que nós mesmos já esquecemos ou descremos.
Elas educam nossa consciência já corrompida pela contemporaneidade, quando nos surpreendem com suas falas especialíssimas.
Lidando com crianças devemos repensar nossas verdades e assumirmos a autenticidade que muitas vezes tentamos camuflar sobre nós mesmos, nossas vontades, nossas ideias e convicções.
A criança mente sim. Isso faz parte de uma fase de sua vida, em que está percebendo como o mundo funciona e quando ainda está absorvendo mecanismos para lidar com a vida social e o autoconhecimento.
A mentira passageira, criativa e até engraçada, dita por impulso torna-se inofensiva quando direcionada e orientada por um adulto lúcido e preparado.
A mentira repetida, com teor de maldade, criada com a intenção de prejudicar alguém precisa ser coibida e orientada com seriedade pelos educadores.
E creiam... É verdade esse bilhete!!