sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O nu, a arte e a pedofilia

                                                      O nu, a arte e a pedofilia

                                                                Rosângela Silva(texto publicado na Revista D'Avila)

A performance de um homem nu no Museu da arte moderna deu o que falar nos últimos dias. E toda essa celeuma me fez lembrar de uma vez que fui convidada por uma amiga para assistir uma peça de teatro, há uns quatro anos atrás. Aceitei o convite e levei minha filha, que na época tinha uns 13 anos.
Eu, tranquila e certamente desatenta em relação à  peça,  não consultei a faixa etária e qual minha surpresa quando do meio da peça ao final tinha um ator que se apresentava totalmente nu.
Percebi que além de mim, outra mãe também ficou aflita, sua filha deveria ter uns oito anos, e ela retirou-se do local. Eu acabei me chateando comigo mesma por não ter consultado ou preparado minha filha para as cenas.
Puritanismo da minha parte? Não se trata disso.
No caso da educação da minha filha, penso que deveria  tê-la consultado ou preparado para as cenas, porque o nu masculino nunca tão foi presente na sua vida. Vivemos nós duas e o nu feminino sempre lhe foi mais familiar.  Claro que o corpo masculino certamente não era novidade para ela, até por conta das nossas conversas e explicaç~oes feitas por mim,dos conteúdos da escola, do acesso fácil à internet, das trocas de conhecimentos informais entre os amigos.
No caso resolvi ficar e assistimos a peça até o final.
O nu e a arte sempre estiveram unidos. Muitos artistas retratam o nu como forma de valorizar a beleza dos corpos, como modo de chamar atenção sobre algo que querem registrar através da sua arte ou ainda pelo apelo comercial. Lembremos de nus famosos: “O nascimento de Vênus”, de Botticelli,”Chloe” deJules-Joseph Lefebvre, “As três ninfas” de Aristide Maillol, a escultura “Davi” de Michelângelo, a escultura “Hermes de Olympus” de Praxiteles entre outras. Obras seculares.
Acredito que cada família tenha formas próprias de lidar com questões polêmicas e difíceis como sexualidade, questões de gênero, morte, dinheiro, alimentação, separação, rivalidades. Isso é bastante pessoal  e é um direito escolher por quais vertentes vai enveredar a educação daquela criança.
Há famílias abastadas, descuidadas. Há família pobres,  que superprotegem. Há famílias que abandonam. Há famílias que dão maus exemplos. Há famílias ponderadas e extremamente sensatas. Há famílias nocivas. Há família equilibradas. Há famílias de todas as formas,  modelos e padrões.
Voltando ao caso recente no MAM, não me cabe julgar a atitude da mãe. Como educadora quero acreditar que  a mãe que expôs a filha à performance deve ter uma relação de naturalidade diante da nudez, esse deve ser um assunto acessível à criança, com respaldo educativo de acordo com a idade cognitiva e emocional da criança.
Sabemos que há uma crise na educação familiar. Sabemos que as famílias têm terceirizado suas crianças, porém isso não nos dá o direito de julgar o caso como incentivo à pedofilia, até porque a maior parte desses casos  acontece,  sigilosamente,  dentro das casas.



Sobre pagar micos com os filhos

Sobre pagar micos com os filhos


Rosângela Silva ( Texto publicado na Revista D'àvila)

Semana passada andava pelos camarotes da FAICI, despreocupada, leve, livre e solta. De repente, me estatelei no chão. Duas pessoas super gentis me ajudaram, levantei, tentei me aprumar e segui meio torta. Mico, micos, micão! Na verdade paguei foi um King-Kong.
Tudo o que eu consegui fazer na hora foi rir, rir muito, já que não tinha me machucado. Mas claro, fiquei bastante envergonhada. Chego ao camarote rindo e contando para as pessoas o que tinha em acontecido. Dias depois eu ainda lembrava do tombo porque passei a sentir umas dorzinhas pelo corpo.
Fiquei pensando no que um tombo, um mico nos ensina. Refleti sobre o desajuste físico e emocional que um tombo em público ou não,  provoca na gente. O que será que esse tombo quis me dizer? Preciso estar mais atenta? Ou me acalmar mais? Ele quis me ligar mais à realidade, justo eu?
Outra situação ligada a pagar mico que vivi dia desses foi a homenagem aos Pais do Colégio ESCALA. A proposta foi “Brincadeiras de chão” e os pais tinham que sentar-se no chão para brincar com seus filhos. Isso era uma provocação, em tempos em que estamos super-atarefados, cheios de compromissos, ocupados por demais,  as vezes em que, como pais,  nos propomos a isso estão cada vez mais escassas.
Pais são  o chão, a  base, o alicerce para seus filhos, abaixar-se para falar eles, ficar no mesmo plano no olhar, colocar-se disponível faz com que sintam-se  cuidados, amados e essa atitude ainda aumenta os vínculos e a confiança mútua.
Mas o mico não era só esse. Em cada sala que passavam, os pais iam sendo maquiados por seus filhos e iam compondo com outros adereços um personagem de palhaço.

Por que isso? Qual era a proposta? Os pais aceitaram passar por isso?

Sim os pais aceitaram sabem por quê? Por mostramos a eles quais as lições que passar por um mico na frente dos filhos ensina a eles.
Quando um pai aceita  jogar-se no chão,  deixar-se maquiar, colocar uma “gravatona” ele exorciza sua vergonha,  ele aceita passar pelas propostas e mostra-se ousado e corajoso perante seu filho. E com isso, ele incentiva-o a enfrentar os obstáculos e dificuldades e a não ficar à margem dos acontecimentos, apenas como expectador.
O pai também mostra-se flexível e bem humorado. Essa é outra lição importante aos filhos: passar pelas provações com bom humor e flexibilidade.
Para os filhos desses pais,  as recordações vividas nesse dia ficarão para sempre em suas memórias como referência de alegria e ousadia.
Sabemos que os micos não param e não temos previsão de quando acontecerão, por isso,  podemos seguir pela vida porque eles chegarão, quer queiramos ou não.

Adolescentes, festas e bebidas

Adolescentes, festas e bebidas
Rosângela Silva ( Texto publicado na Revista D'Avila)


Toda semana  tem motivo para comemorar. O aniversário de alguém, a chegada de uma viagem, a ida a uma viagem, o início das férias, a volta às aulas, intercâmbio da amiga, emtre tantas outras possibilidades.
Ser mae-pai de adolescente é viver num eterno estado de alerta. E garanto estado de alerta ainda maior do que vivemos na infância dos nossos filhos em que na maioria das vezes estavam sob nosso teto, nossas asas.
Vívidos por liberdade e por encontrar os amigos e pares românticos querem e precisam de espaço para exercitar o que aprenderam dentro de casa.
As festas, os rolês tiram nosso sono, mas ensinam aos nossos filhos sobre a vida, seus perigos, suas seduções, suas armadilhas.
As festas, bem as festas... Os nomes, sugestivos de tantas possibilidades nos assustam e nos fazem querer ser um pernilonguinho  ou quem sabe um vagalume (ainda existem vagalumes?) para passear por lá: “Festa da diretoria”, “Só os bons”,  “Vai embrasando”, Glow Party, Malandramente, “Acoolteceu”, Chacrowisky,
Passando pelo nome, vem a parte: open bar ou levar bebida. Open bar  assusta, pois podem beber além da conta. Levar bebida  dá a impressão de que há maior controle, pois nem todos levam, nem todos contam isso aos pais, a meninada tem grana controlada.
Seja como for , eles vão lá e bebem. Bebem pra se soltar, bebem para se desinibir, para tomar coragem de agir, seja para se aproximar do par escolhido, seja para dançar mais solto, seja para ter coragem de aventuras mais ousadas.
Na minha experiência como mãe, não nego, vou junto com minha filha e compro a bebida para ela levar, assim controlo que está levando, o teor alcóolico, a quantidade. Confesso que nas primeiras vezes que fiz isso entrei em pânico, mas pensei “é melhor ela me contar, eu participar desse momento, do que ela fazer isso escondido”.
Pego a oportunidade e senta que lá vem conversa... “Beba a ponto de estar ciente do que está fazendo”, “não beba de copos alheios”, “Reveze a bebida com água”, “Esteja sempre com acompanhada das amigas(os)”, “não fique sozinha na festa”, “quando for convidada para algo duvidoso, lembre-se do que seus pais diriam” e blá, blá, bla. Na dúvida reviso todas as orientações.
Se adianta tudo isso? Não sei de verdade, mas prefiro pecar por excesso do que por omissão.
Toda vez que entro em aflição procuro lembrar dessa minha fase. Como eu pensava? O que eu fazia? Até onde eu ia? Quais eram as sensações boas e ruins vividas? O que me movia? Que medos e vontades eu tinha? Como me sentia conhecendo toas aquelas novidades que me chegavam?
No meu caso as orientações e ensinamentos dos meus pais funcionaram. Rezo todos os dias no desejo de que com minha filha há de funcionar também.