quarta-feira, 18 de maio de 2016

Ser aluno

O terceiro texto fala como ser um aluno de sucesso, de que forma a família podem contribuir nessa empreitada e os anseios da escola.

                                                                                       SER ALUNO
                                  Rosângela silva ( artigo publicado na Revista  www.revistadavila.com.br)

Ser aluno é colocar-se na condição de aprendiz e isso é possível ocorrer muitas vezes,  todos os dias. Ninguém torna-se aluno apenas por sentar-se nos bancos  escolares. Se encontra na situação de aluno, a criança que observa a vó tecer um tapete, a outra que assiste a mãe fazer um bolo, o menino que vê o pai consertar o pneu, a garota que acompanha o irmão  jogar damas, um adulto que assiste à uma palestra on-line, uma pessoa que escuta uma entrevista no rádio. O  texto “Ser aluno” procura retratar o perfil do bom estudante e de que forma a família e  a escola podem colaborar para o seu sucesso.
 Para isso é preciso situá-lo no atual contexto social. Hoje vivemos uma sociedade com grande crise ética, política e social na qual os valores positivos e a capacidade de empatia e respeito estão em queda. A família também vive seus conflitos, assim como a escola.
Muitos pais parecem perdidos quanto ao seu papel, quanto ao que o filho pode ou não em cada fase que vive, quanto à forma melhor de educar, quanto ao modo de aplicar sanções, quanto à maneira de estabelecer regras.
Crianças e adolescentes cada vez mais hedonistas, mimados e centralizadores chegam às escolas, que muitas vezes também não sabem como lidar ou estabelecer seus limites.
 A escola, por sua vez,  espera que cheguem ao seu espaço em qualquer tempo que for, alunos que primeiramente saibam acatar comandos, regras e  respeitar autoridades. Cabe às famílias estabelecerem esse critério, para que seus filhos tenham dimensão de como agir  e viver adequadamente nesse espaço coletivo que necessita de ordem, regras  e respeito entre os que convivem.
Como chegar às escolas com esse preparo,  se muitas vezes os filhos tomam as decisões em casa, mandam e decidem conforme seu interesse próprio, sem ter consequências colocadas que os levem a aprender e amadurecer com os erros?
Escolas incentivam organização. Um aluno organizado tem vantagens sobre colegas que não possuem essa característica. E um adulto organizado começa a ser moldado em casa quando a a criança, guarda seus brinquedos, roupas e sapatos, quando um adolescente arruma sua cama e suas gavetas, por exemplo.
Professores alegram-se com alunos estudiosos e responsáveis com seus deveres. Estudar diariamente e fazer os deveres de casa  são atitudes que contribuem para o sucesso de qualquer estudante. Esse é um grande desafio para pais e escolas, pois a maioria das crianças e adolescentes têm dificuldade de cronometrar seu tempo e dividi-lo entre os estudos e o lazer. Especialmente os adolescentes, perdem-se diante da sedução dos aparelhos tecnológicos, que enfeitiçam e roubam tempo. Tempo que poderia ser melhor aproveitado, inclusive com propostas familiares de lazer mais atraentes e que levassem a garotada a sair do sedentarismo,  que certamente contribuiriam para um desenvolvimento mais saudável e completo.
Educadores sabem da importância da autonomia para  o sucesso escolar. As famílias podem contribuir com as escolas estimulando  as crianças  nesse aspecto. Desde cedo é muito importante que os pais não façam por seu filhos,  aquilo que já são capazes de realizar sozinhos. Assim, vão crescendo autônomos, capazes de agir e fazer as tarefas que lhe chegam, com mais independência. Diversas oportunidades de escolha podem ser dadas às crianças e  adolescentes para que treinem a capacidade de escolher por si mesmos e assim exercitarem momentos de autonomia.
Na escola, os mestres valorizam também a iniciativa, que é outro quesito importante que agrega sucesso aos estudantes. Aqueles que não necessitam de supervisão frequente, que são capazes de iniciar propostas, enfrentar desafios, agir espontaneamente  sobressaem-se sobre os demais estudantes. Os pais podem colaborar para que seus filhos sejam sujeitos mais prontos para realizar as tarefas, estimulando e elogiando suas iniciativas. Muitas vezes, até sem querer ou perceber os pais limitam o interesse e a iniciativa de seus filhos e isso poda a sua disponibilidade natural e o seu ânimo.
Alunos que iniciam propostas e são capazes de concluí-las também têm grande reconhecimento na escola. A procrastinação é hoje um dos grandes desafios dos professores na sala de aula, pois muitos alunos resistem, enrolam e vão deixando os compromissos para depois. Em casa, os pais ajudam muito, se cobrarem a finalização das tarefas, estabelecendo tempo e a forma adequada de execução. Crescendo assim, as crianças vão se sentindo confiantes, capazes e treinando a habilidade de realizar as tarefas que lhe são postas.
Para os professores a  conclusão e entrega pontual das tarefas credita ao aluno o respeito aos prazos e a capacidade de  corresponder às solicitações.
O fator atenção é um quesito importante na sala de aula. Grande parte dos alunos de hoje têm dificuldade de concentrar sua atenção nas aulas, sejam elas expositivas ou até mesmo práticas.
O acesso a milhares de informações do mundo interativo é positivo, porém, ao mesmo tempo dificulta a capacidade de atenção prolongada, o que resulta em estudantes agitados, impulsivos e bastante desatentos. O excesso de estímulos acaba saturando e impossibilitando o exercício da atenção.
Os espaços escolares clamam por alunos participativos, questionadores, que dão ideias e sugestões. Alunos assim,  enriquecem a sala de aula, engrandecem os conteúdos, ampliam as oportunidades de aprendizagem. Por isso, as famílias devem cuidar para que haja em suas casas espaço para perguntas, ideias, criações e formas diversas da criança participar da dinâmica das tarefas, dos projetos e da organização cotidiana.
Dessa habilidade forma-se o aluno que não leva dúvidas para casa, que levanta questões, que escava os conteúdos até chegar à compreensão do assunto.
 E a escola se agiganta  quando alunos compartilham os conhecimentos com os colegas e dividem o conteúdo que aprenderam. Essa  é uma habilidade importante que contribui para ambos os lados. De um lado o aluno ao explicar ou tirar dúvidas dos seus colegas, reforça ainda mais e amplia o seu próprio conhecimento. Já o colega que recebeu a informação pode se apropriar de algo que ignorava.
Crédito mesmo tem na escola o aluno esforçado. O esforço, o desejo de conquistar algo, a braveza para superar dificuldades e lacunas, também contam muito e diferenciam um aluno do outro.
Essa reflexão pretende compartilhar informações e  lista algumas habilidades pessoais que ajudam e levam o estudante a “tirar de letra” a  escola, sem a pretensão de padronizar pessoas, comportamentos ou conceitos.
Pessoas são singulares. Alunos são todos diferentes e chegam à escola cada um com suas características. De forma alguma deve-se esperar que cheguem formatados, prontos e robotizados.
Num mundo globalizado e tecnológico como esse, os alunos chegam à escola com muitos conhecimentos. Cabe à escola oferecer espaço para que eles reelaborem esses conhecimentos, façam ligações, vejam esses domínios sob novas perspectivas, com novas “aplicabilidades” e também possam empregar e produzir novas informações, criar novos conteúdos, passando de recebedores para produtores de cultura. Talvez seja esse um caminho para  envolver os alunos com a aprendizagem e fazê-los comprometerem-se com ela.