domingo, 18 de maio de 2014

As crianças e as brigas em família

As crianças e as brigas em família
Maria Rosângela  Silva

       Brigas em família. Ninguém escapa delas.  A família pode ser pequena ou grande,  rica ou pobre, educada na religião ou não, unida ou desunida, pacata ou festeira. Os motivos são os mais variados. A convivência diária faz com que conheçamos melhor as pessoas.  Por outro lado, também faz com que esbarremos em algumas manias, teimosias, atitudes egoísticas, cobranças e conflitos que levam a discussões, ofensas e até ao corte de relações entre as pessoas.
       Os conflitos , especialmente os familiares, chateiam, entristecem, magoam. Podemos pensar nos conflitos sempre como ruins ou tentar enxergar o que podem trazer de bom. Acredito que os conflitos não sejam tão ruins assim. Muitas vezes, eles servem para por um basta em alguma situação de abuso de poder, de exploração, às vezes servem para reorganizar relações desgastadas, para limpar assuntos mal resolvidos, para alinhar pontos de vista.
       O tempo ajuda o conflito e apazigua os corações. O importante é que as pessoas se revejam, busquem encontrar seus erros e corrigi-los, refaçam a cena da briga mentalmente e procurem pensar no que poderiam ter feito ou falado de modo diferente e mais importante, que abram-se para a reconciliação.
       Pessoas maduras  têm condições emocionais para sentar, conversar e remodelar a relação. É muito preocupante quando crianças são envolvidas no conflito e ficam a mercê dos comportamentos de adultos ressentidos, que se tornam endurecidos e ensinam às crianças que não se deve voltar atrás, que pedir desculpas é humilhante, que desculpar alguém que nos magoou significa rebaixar-se.
       Triste que crianças sejam envolvidas em conflitos familiares e sejam estimuladas  a desviar de um avô, a baixar os olhos para um tio, a mentir para um pai, a enganar uma avó, a cortar relação com uma prima querida.
       Claro que é preciso considerar os casos criminosos, dos quais a criança fica protegida quando afastada de familiares abusivos, de mau caráter e pouco confiáveis. Nessas situações não é seguro expor a criança.
       Tirando essas situações sérias, doídas e sem chance de retorno, as crises familiares sempre existiram e vão existir para ensinar sobre reconciliação, sobre encontrar um jeito de fazer as pazes, de restabelecer o congraçamento entre entes queridos.
       Família  é porto seguro, lugar de colos, abraços e ajuda nos momentos difíceis.




sábado, 10 de maio de 2014

Eu e minha caixa

Eu e a minha caixa
Maria Rosângela Silva 

Dia das Mães na escola. Talvez a última homenagem preparada na escola, já que a Raphaela está no último ano do Ensino Fundamental e ano que vem, no Ensino Médio não haverá espaço para essas homenagens.
São tantas as lembranças que guardo : a caixinha com frases escritas só para mim impregnada com o cheiro do meu perfume, a fotografia tirada após a Raphaela ter me enfeitado com adereços, a caixa de sapatos decorada com nossas fotos, o caderno de receitas que reuniu as comidas preferidas das mães do Pré, a tela “Borboletas azuis da felicidade”, o cartão extraído da exposição de quadros “Tarsila do Amaral” mostrando as telas da artista ligadas à maternidade, as brincadeiras da oficina corporal “Vivendo e aprendendo a jogar”, as massagens ao som de músicas deliciosas,a caixinha de madeira pintada com flores (Eu vejo flores em você), a folha de scrapbook decorada por nós duas no ano passado...
A primeira delas, no maternal da tia Darcy Krahembüll, como esquecer? Uma composição de tecidos montando uma cena de mãe e filha sobre um pedaço de estopa. Para mim a mais linda tapeçaria que alguém poderia criar, e que está pendurada na porta do meu quarto até hoje.
A caixa deste ano teve um gostinho de despedida e a saudade já começa a apertar... Raphaela teve que compor uma caixa com objetos e coisas que me representam, que dizem quem eu sou. Ela teve que me inventariar, me pesquisar, viajar por mim e até fazer umas escavações para procurar as preciosidades que eu guardo, que eu valorizo, que me trouxeram e ainda trazem lindas recordações, que são significativas para mim. Na verdade ela teve que buscar as coisas sagradas que habitam em mim.
E lá estavam uma echarpe que gosto na cor verde, um relógio (um opressor que me chicoteia o dia todo), uma mandala que ganhei há muito tempo atrás das mãos de D. Sônia Gonçalves, folhas, flores, pedras e penas recolhidas do chão e que guardo numa caixinha como reverência à natureza (gesto compartilhado com a Raphaela), uma pequena bíblia em frases, vidrinhos coloridos e um pequeno massageador, talvez para me lembrar que preciso me acalmar e ser mais paciente.
Tudo isso aqui exposto para falar da minha relação com minha filha? Da minha alegria em ser mãe? Para exibir uma suposta relação perfeita entre mãe e filha para as redes sociais?
Tudo isso para falar do significado dos presentes e das marcas que eles deixam.
Bombardeadas pelo consumismo e pelo enaltecimento do egocentrismo, as crianças de hoje querem muito receber e sabem pouco sobre o “oferecer”. Acredito que esse exercício de confeccionar artesanalmente o presente empurra a criança para pensar no outro, para entender o significado da palavra construir, para o treino do “olhar para fora de si mesma”.
Como mãe estou satisfeita com todos os presentes que ganhei até hoje através da escola. Não são luxuosos, não têm grande valor material, não ficaram expostos em vitrines bonitas, talvez não satisfizessem o ego de uma mãe muito pretensiosa e consumista. Mas eu fico aqui pensando no quanto esses presentes falam de mim e do quanto contribuíram para enlaçar minha relação com minha filha.
E para mim isso já basta porque são presentes que falam de relações, de sermos humanos, de viver essa linda e complexa relação de sermos mãe e filha.