terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Bodas de ouro- reluzindo nossa família

                                    Bodas de ouro- reluzindo  nossa família

                                                         Rosângela Silva 

Dois jovens. Um casamento. Uma vida a dois começa. E tanta história para contar depois de 50 anos.
No começo dificuldades imensas, sonhos distantes de serem realizados, desafios diários a serem superados.  O trabalho só dava para  comprar o pão de cada dia. Não havia sobras, nem estoque.
A terra dava o sustento se fosse trabalhada, arada, roçada. E trabalhar na terra é desafio para gente que ama o solo, que sabe acariciar o chão com as mãos e molhá-la com o suor extraído da face. E isso o pai sabia fazer com maestria.
Nunca teve medo do trabalho, nem do esforço, nem da lida diária. Acordar cedo, enfrentar o frio,  a geada, a seca, o fogo, os espinhos e pedras do caminho não lhe punha medo.
A mãe, cuidava da casa, limpava, preparava a comida, levava comida na roça, lavava roupa no ribeirão, lenhava, caiava a casa. Alicerçava e era esteio para o pai. Tantas vezes também enfrentava a roça. Logo vieram os filhos e essa era uma tarefa grande. Cinco crias. Cinco amores, que nunca mais deixaram-lhe o semblante tranquilo.Um deles já não está entre nós, mas não sai da lembrança da nossa mãe.
Ele: agricultor, lavrador, boiadeiro, caminhoneiro, retireiro, leiteiro,vendedor, negociante, balconista, comerciante, administrador, até pedreiro.
Ela: mãe, dona de casa, lavradora, faxineira, cozinheira, costureira, boleira, doceira, cuidadora.
O tempo passa, o trabalho é tanto que não há tempo para senti-lo.
Tempo, o senhor da vida, engole nossos dias, traiçoeiramente.
E dia após dia, hora após hora, ano após ano, lá se vão 50 deles.
O que se viveu nessas cinco décadas está guardado nas memórias e o registro de tudo é um livro de muitas páginas, a ser lido pausadamente, degustando minuciosamente cada capítulo. A  história contada mistura romance, amor, drama, suspense, aventura,humor, fantasia.
Filhos crescidos, trilharam seus caminhos, honraram a educação recebida. Herdaram o caráter, a hombridade, a fibra  e o gosto pelo trabalho.
Vieram os netos, que enchem a casa de alegria e de barulho também. Cada um que chegava, unia mais a família e trazia mais amor para ser repartido.
Nessa linha do tempo as emoções são diversas e os acontecimentos misturam os sentimentos, que mudam a cada novo acontecimento. Às vezes faz sol, às vezes venta e em outras vezes chega um temporal. A certeza que se tem é que sempre um novo dia vai raiar sem que se possa saber o que virá. Será preciso vivê-lo do jeito que se apresentar.
Obstáculos, contratempos, provações, desentendimentos.
Cuidados, afeição, doação, enfrentamentos.
Complicações, bloqueios, dores, tristezas.                                                                                 
Ajuda, força, companheirismo, alegrias.
Contrariedades, embaraço, decepção, revezes.
Paciência, apoio, conselhos,  satisfação.
Cobrança, apertos, impasses, apuros.
Incentivo, contentamento, prazer, glória.
Amargura, desafeto, aflição, discussões.
Gosto, bem-estar,animação, gozo.
Desajuste, raiva, disciplina, dureza.
Orgulho, paz, amor, família.
Uma família como tantas outras. Com acertos e desacertos, mas que têm os laços apertados e que sabem poder contar uns com os outros, tendo orgulho  do que cada um representa no íntimo de cada um.

Que esses 50 anos de união apertem ainda mais os nossos laços.

Saber esperar


                                                              Saber esperar  
                                                              Rosângela Silva

Publicado em: http://www.revistadavila.com.br/2016/11/educacao-saber-esperar-rosangela-indaiatuba/
Hoje em dia é bastante espetacular quando encontramos uma criança ou adolescente com a capacidade de autodisciplina.
A maioria deles não suporta frustrações, não admite esperar e deseja ser tratado com uma especialidade além do normal.
Todos se julgam  muito importantes, muitos são extremamente birrentos e outros têm a ousadia de querer mandar em casa. E mandam!
Educar uma criança para saber esperar, para adiar um desejo, para saborear a conquista, para a autodisciplina não é fácil, especialmente porque a maioria dos pais também se sente muito especial, também  tem seus mimos e caprichos e também querem ser vistos e notados com uma especialidade fora do comum.
Outro dia soube de uma menina que ganhou um roteador do pai para por em casa. A mãe não concordava muito e achava que uma a conexão em casa em um único computador favorecia o controle e a segurança. Não correu para fazer  a instalação, não se apressou. E lá ficou o roteador parado por meses. Às vezes a menina pedia e a mãe conversava e adiava a instalação. Exercício de espera, de dizer não ao imediatismo.
Em outro caso a mãe havia comprado uma caixa de chocolates para levar a uma amiga. O encontro demorou uns dias e a caixa permanecia lá na mesa à espera do dia da visita. O menino pediu para a mãe deixá-lo abrir, mas a mãe explicou que era o presente da sua amiga e que quando fosse ao mercado lhe traria uma igual. O menino não fez birra, não esbravejou. Entendeu. Exercício de espera, de ser capaz de adiar um desejo. Na semana seguinte a mãe lhe trouxe o chocolate pedido.
Em nova situação soube de uma menina que queria um tênis de marca. A mãe disse que lhe daria no seu aniversário que ficava quatro meses à frente. Ganhou o tênis no dia do aniversário. Exercício de espera, da  capacidade de adiar, de aguardar por algo.
O que leva os pais a saciarem os desejos de seus filhos com tanta “imediatez”? Que vontade é essa de suprir suas vontades sem fazê-los passarem pela espera? Que medo intenso lhes causa a frustração do seu pimpolho? Que senso de perda ou fracasso lhe provoca o ato de dizer a palavra “não”?  O que lhes faz aceitar birras, crises de choro e xingamentos, sem esboçar nenhuma reação de autoridade?
A vida é passageira, sim, mas enquanto estamos vivos temos que preparar nossos filhos para bem vivê-la: aceitando, tendo paciência, compreendendo melhor os acontecimentos.

Despertar para a sensibilidade

Despertar para a sensibilidade

                                                             Rosângela Silva

Publicado em  http://www.revistadavila.com.br
Não há receitas prontas para educar os filhos, para fazê-los serem pessoas de sucesso, para transformá-los em  pessoas éticas.
Não há fórmulas certas, nem formas que possamos colocá-los e depois de um tempo brotar o sonhado filho.
Há sim atitudes e ações cotidianas que podem ajudar a formar um indivíduo mais atento, sensível e ético. Como querer ter um filho sensível sem que ele vivencie a sensibilidade?
Como sonhar com um filho ético, sem que ele exercite essa prática?
Como vislumbrar um filho empreendedor se tratá-lo como um “bebezão” incapaz?
Outro dia vi uma adolescente pedir para a mãe parar o carro para que fotografasse uma linda árvore forrada por um tapete de  flores no chão. A mãe parou! Era uma cena linda! Antes de fotografar a árvore realmente a menina, já a tinha fotografado na mente. Olhou, se sensibilizou, gostou do que viu e então o ato de fotografar para seu registro.
A mesma menina foi premiada recentemente em um concurso de fotografias da cidade. Andava com o pai pela cidade, passaram por um lugar bonito, o pai chamou-lhe a atenção e sugeriu a foto. Ficou lindo o registro a ponto da foto ser premiada. Mérito só da garota?
Claro que não, se o pai não lhe mostrasse e não lançasse o desafio da foto, talvez ela sozinha não percebesse a beleza daquele momento.
Nesses dois exemplos fica clara a importância do “despertamento”, do incentivo, do “treinar o olhar” para as coisas belas que se expõe ao nosso redor.
Sem tempo para observar e conhecer os filhos não é possível transformar pequenos instantes em ricas aprendizagens de vida.
Sem disponibilidade para estar com os filhos e gastar nosso tempo com eles, não é possível entender como pensam e como resolvem seus conflitos.
Sem coragem para abdicar de si mesmo em favor da educação e fortalecimento dos filhos não é possível intitular-se pai ou mãe.

sábado, 15 de outubro de 2016

As paralimpíadas e seus atletas inteiros


Texto publicado na Revista D'Avila
http://www.revistadavila.com.br/2016/09/as-paralimpiadas-e-seus-atletas-inteiros/

As paralimpíadas deixaram lições a todos que assistiram as competições. Sabemos que o público compareceu em grande massa para assistir e vibrar com os atletas e, se não temos tantos heróis para inspirar nossas crianças e adolescentes, que essa tenha sido uma oportunidade grande para eles  se confrontarem com exemplos positivos e inspiradores.
Na abertura,  um momento marcante foi a dança da atleta, modelo e atriz Amy Purdy com um robô, lindo de ver a interação e a harmonia entrelaçadas entre o humano e a máquina. Uma relação necessária, complementar, inteira por si só.
E isso pudemos ver ao longo das disputas quando admirávamos a velocidade, a ousadia e a precisão dos atletas.  Deles e de suas próteses avançadas, suas cadeiras aperfeiçoadas, seus assentos confortáveis , seus apoios e adaptadores ajustados às suas necessidades. Realmente muito a se admirar e agradecer em relação ao avanço tecnológico que nos acompanha, e que garante além de qualidade de vida, um viver mais digno e possibilitador  de inclusão às pessoas com  deficiências.
Ao vermos todos aqueles esportistas com suas limitações quebrando recordes, dando o melhor de si, criando formas de adequarem suas deficiências à  modalidade escolhida, dá uma vergonha das reclamações dos nossos pequenos problemas cotidianos. Vergonha de me irritar com o barulho do vizinho do apartamento ao lado,  vergonha de reclamar de uma dorzinha de cabeça, vergonha de me queixar de nesse mês não deu para comprar o celular novo que queria,  vergonha de dizer que não tenho roupa nova para sair,  vergonha da histeria frente à uma fila que empaca, vergonha de me queixar que hoje bati o cotovelo na quina da mesa, vergonha de reclamar que meu pai não deu a quantidade de dinheiro que pedi para sair, vergonha de pedir para parar de chover porque eu ia à praia, vergonha de falar que o sol está forte demais para eu ir a pé até a escola, vergonha de me queixar que o vento espalhou folhas na minha calçada, vergonha de amaldiçoar meu cabelo que está com frizz, de repetir que estou magra(ou gorda) demais, ou de reparar na cintura larga da minha amiga, ou na falta de bunda da outra.
Nas disputas,  atletas inteiros na dedicação, na busca por superação, na força para atingir seus objetivos.
Atletas completos na inspiração que deixaram, na marca que registra que não há limites para os sonhos.
Atletas gigantes na determinação e nas afirmações: “eu posso”, “eu consigo”, “eu vou além”.
Que muitos tenham tido a possibilidade de mostrar aos seus filhos ou alunos essas referências, esses ícones tão especiais e eficientes nas suas buscas. Que tenham podido escancarar para eles, que o mundo é amplo e que vai além dos muros das suas casas.
Que o hedonismo dessa geração possa sofrer provocações como essa que desestabilize o seu ego gigantesco, o seu “querer sempre mais”, o seu “olhar para o próprio umbigo”, o seu “você não manda em mim”, o seu “eu sou a pessoa mais importante nessa casa”, o seu “faz porque meu pai está  pagando”.
Medalhas de ouro a todos os educadores e pais que ampliaram olhares e valores através das paralimpíadas.

Continue a nadar, continue a nadar

                                  Continue a nadar, continue a nadar
                                                Rosângela Silva


Texto puplicado na Revista  D'Avila
http://www.revistadavila.com.br/2016/09/continue-a-nadar-continue-a-nadar/

Em 2003, minha filha  tinha 3 anos quando assistimos ao filme “Procurando Nemo” no cinema. Ela amou o filme e com o DVD em casa assistimos mais um milhão de vezes.
Eu, educadora, também me encantei com o filme e me identifiquei com o drama do pai Marlin, um pai superprotetor, que se desdobra para cuidar  do filho Nemo que  tem uma característica especial, possui uma nadadeira menor que a outra. É sempre vigiado e muito cuidado pelo pai, que  explica  sobre os perigos do mar, sinaliza, aconselha, orienta e muitas vezes, sufoca e exagera na proteção  ao seu filho Nemo, um peixe-palhaço. Enfim, o pai tenta estar presente em sua vida, para ajudá-lo e diminuir possíveis dificuldades que possam surgir.
Sua preocupação aumenta  quando o filho Neno  foi capturado por um mergulhador e ele trava uma busca incansável para achar seu filhote, pelo mar aberto.
No filme apesar do sufoco, Nemo vive interessantes aventuras com sua companheira Dory, aprende muito e faz diversos novos amigos. O desespero maior era mesmo do pai na longa procura por sua cria.
Ruim julgar Marlin, muitos pais, parecidos com ele, agem assim com boa intenção, querendo acolher o sofrimento de seus filhos, impedindo, sem querer ou sem consciência dos atos,  que passem pelas dores e aprendam com elas. O que é certo  dizer é que o mundo  não poupa aqueles mais indefesos e mais frágeis. A lei da inclusão está aí para provar isso e mesmo sendo lei, é negligenciada por tantos.
Agora, em 2016, assistimos “Procurando Dory”, que conta da busca imensa de Dory, um peixe da espécie Blue Tang, para encontrar sua família, mesmo com seus lapsos de memória. Situação que também a torna especial.
Dory, com suas limitações não se intimida e é persistente na sua busca. Uma grande lição do filme que ficou para mim é a importância da família. Somente na família podemos ser aceitos do jeito que somos ou então receber as críticas e resistências necessárias para o nosso aperfeiçoamento.
Família é a base da nossa personalidade, do caráter, dos valores, é o lugar dos modelos e referências  embora,  às vezes ela possa sim,  ser nociva e negligente.
No caso do filme, o que nos mostra é o lado positivo da família, um lugar para onde sempre queremos voltar para sermos mais completos e estarmos seguros.
Outro ponto  retratado é que a família precisa ensinar a persistência, a coragem e o enfrentamento dos medos. Não pode apenas poupar e dar colo.
Aceitar as dificuldades sim, mas ao mesmo tempo é dever da família fazer de tudo para que os filhos possam ter condições de enfrentar as adversidades, afinal nossas crianças não ficarão para sempre sob a nossa proteção.
“Continue a nadar! Continue a nadar! Continue a nadar, nadar, nadar! Para achar a solução, nadar, nadar !” Essa é uma frase, ou melhor um mantra que Dory repete continuamente e que também devemos repetir aos nossos filhos.
A vida muitas vezes vai nos decepcionar e até atropelar, mas, mesmo assim, precisamos prosseguir, dar um jeito, recomeçar, seguir adiante e certamente continuar a nadar.

sábado, 17 de setembro de 2016

Sem Domingos


Sem Domingos
O velho Chico agoniza,
escorrem de suas águas,
lágrimas choradas 
da dor do assoreamento,
águas sagradas,
em constante movimento,
sol forte, respingos,
águas furiosas, curvas,
as barragens, um tormento.
O rio com sua água turva,
na quinta, levou Domingos,
quis roubá-lo,
levar nosso bom palhaço,
quis vê-lo fazendo arte,
somente sob suas águas,
e agora lamento,
choraremos a saudade,
vazios do seu talento!!

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O papel do pai

por Rosângela Silva
Texto publicado na Revista- http://www.revistadavila.com.br/

A família tradicional cujo papel do pai era prover, proteger, sustentar, punir e dar segurança, da mãe educar e ensinar e o dos filhos  aprender e incorporar as regras ensinadas há muito vem se modificando.
Boa parte das crianças e jovens hoje vive com apenas um dos pais, na maioria das vezes só com a mãe.
Na nova concepção familiar, todos têm que se adaptar e adequar para cumprir os novos papéis e desafios que se instalam. Pontos positivos e negativos desfilam entre todos que têm que se remodelar para atender às novas exigências e expectativas da sociedade.
Nessa nova formatação familiar, muitas mudanças ocorreram. A mãe, antes responsável pela organização doméstica e rainha da afetividade e aconchego teve que partir para o mercado de trabalho e esse papel ficou delegado às empregadas, avós e até para os professores. O pai, em muitos casos, transformou-se numa figura ainda mais ausente, pouco participativo na formação de seus filhos, devido às inúmeras exigências oriundas do trabalho. Outros passaram a dividir com a mãe tarefas ligadas aos filhos que antes eram só do universo feminino: dar banhos, alimentar, frequentar reuniões escolares, auxiliar nos lições de casa e estudos.
Só o que ainda não mudou é o papel fundamental do pai, estando casado ou não, na construção da identidade de seus filhos, sejam eles do sexo masculino ou feminino.
Sendo pai de menino, o homem será responsável pela sua identificação sexual e servirá como modelo em seus hábitos e atitudes. O pai para as meninas tem significado crucial , pois mesmo identificando-se com as mães,  elas buscam atingir o amor paterno que lhes possibilitará conhecimentos sobre o sexo oposto. Ele é o primeiro homem na vida da filha, pois é com ele que ela aprende a entender o universo masculino. Hoje, pesquisas indicam que meninas que estiveram fortemente ligadas aos pais na infância demonstram ser mais seguras e ter alta autoestima.
Estudos também indicam que a ausência paterna faz com que os meninos deem valor excessivo ao dinheiro e às conquistas materiais, buscando o sucesso a qualquer preço, conquistando todas as mulheres que forem capazes, descarregando suas  carências nos gestos  violentos e agressivos.
Já nas meninas, a falta do pai faz com que surja um sentimento de culpa e inadequação que gera um baixo autoconceito, podendo dificultar  o entrosamento sexual com o sexo oposto.
Por tudo isso, pode-se concluir que a ausência paterna, tanto para as meninas quanto para os meninos, apresenta perdas fundamentais para o seu desenvolvimento e aprimoramento pessoal.
Pais,  seu  maior presente aos filhos é a sua presença.

sábado, 30 de julho de 2016

Meninos Em Ação (Em Boa Ação!)

Meninos Em Ação (Em Boa Ação!)

                                                              Rosângela Silva

Texto publicado na Revista- http://www.revistadavila.com.br/

     Dias atrás conversava com uma prima sobre educação dos filhos. Eu comecei dizendo que diminuiríamos muito o machismo e as agressões contra as mulheres se as mães dos meninos cuidassem para que eles crescessem respeitando mais as meninas.
     Ela concordou, mas como mãe de 3 meninos, relatou o quanto percebe a falta de limites e o desrespeito das meninas para consigo mesmas, disse perceber a família deixando as cobranças e orientações de lado.  Continuando, ela descreveu como aconselha seus filhos: “Oriento que devem cuidar e ser gentis com as meninas”, “ Peço que as tirem de ocorrências perigosas ou vexatórias”, “Digo a eles que  têm que ajudar as meninas que  estiverem em situação de risco ou que se põem em atos constrangedores”.
     Minha cunhada também educa um menino de 17 anos. Ela é categórica com as  responsabilidades dele  e sempre repete"Neto meu não ficará largado pelo mundo. Se fizer filho, vai ter que assumir e cuidar".
     É assim mesmo que penso que as famílias dos meninos deveriam agir.
     A verdade é que uma boa parte de nossas crianças ou adolescentes sejam eles, meninos ou meninas, têm sido negligenciados pelas suas famílias. A pressa, o trabalho, o cansaço, as cobranças profissionais e o egocentrismo dos pais fazem com que cuidem menos de suas crias e olhem menos para elas.
     O resultado é uma grande massa de desajustados, querendo levar vantagem, querendo se passar por ícone em ações incorretas ou maldosas, mentindo, driblando, desejando ter sucesso sem usar de esforço e dedicação.
     Falando especificamente dos meninos agora, vamos relembrar que  os hormônios contribuem para o comportamento mais impulsivo e agressivo e, em relação à estrutura cerebral, a amígdala, maior no homem, influencia para que sejam mais explosivos e tenham gosto pelos riscos. Há nos meninos diferenças em relação às meninas nos sentimentos, nos relacionamentos, no pensamento, na resolução dos problemas e nas reações. Isso tudo confirmado pela neurociência, pela psicologia e pela biologia.
     Sendo o corpo masculino uma ferramenta que induz ao movimento, a ação e, até à transgressão, cabe às famílias e às escolas investirem  esforços na formação dos valores e do caráter em busca de um ajuste positivo na educação dos meninos.
     O pai é uma figura importantíssima na formação dos meninos e uma referência no direcionamento das ações assertivas. Na ausência do pai, tios, avós ou padrinhos cumprem bem esse papel. O importante é que recebam bons exemplos dentro da família para terem em quem se basear para moldar a sua personalidade e os seus valores.
     Muitas atitudes podem ser adotadas para educar a sensatez, a sensibilidade e os valores dos meninos, tanto em casa como na escola: reduzir  a exposição à violência, permitir o choro e a demonstração de medo, estimular o cavalheirismo com todos ao seu redor, ensinar a cozinhar e cuidar dos afazeres domésticos, ensinar a respeitar as meninas, jamais puxando ou forçando uma proximidade que elas não desejam, treinar o sentimento da perda,  propor situações para exercitar o  autocontrole, cobrar  atitudes positivas com amigos e vizinhos, valorizar atitudes acertadas no dia a dia e escolhas saudáveis, valorizar a honestidade e expulsar a corrupção cotidiana  do ambiente familiar.
     O estímulo aos esportes, o incentivo ao bom gosto musical, especialmente de ídolos que sejam bons modelos de valores, o compartilhamento de boas ideias e ações no meio em que vivem também contribuem para uma formação melhor.
     A família, a escola e o governo devem  estar atentos aos meninos especialmente no aspecto da permanência na escola. Dados confirmam que as meninas são mais alfabetizadas e permanecem mais na escola do que os meninos. Eles enfrentam o trabalho mais cedo e buscam ajudar no sustento familiar, principalmente nas classes menos favorecidas.
     Uma comunidade melhor depende de pessoas mais conscientes e melhores em suas ações. A cidadania começa em casa e estamos todos muito carentes de heróis e de bons exemplos. Eduquemos nossos meninos!! Eles não precisam ser heróis, mas podem ser gente boa!!!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Por mais Malalas e menos Barbies

                                                             Por mais Malalas e menos Barbies
                                                                          Por Rosângela Silva
Texto publicado na Revista- http://www.revistadavila.com.br/

Outro dia lia uma matéria dizendo da influência dos brinquedos oferecidos na infância para meninos e meninas e do quanto eles contribuem para o desenvolvimento da  engenhosidade e do espírito científico. Enquanto os brinquedos dos meninos promovem ação, movimento, construção, os das meninas direcionam para os cuidados com a casa, com  a cozinha, com a beleza.
Isso me despertou para escrever sobre as formas com que os pais educam os meninos e as meninas e a repercussão disso nas suas vidas futuras.
Educar filhos meninas ou meninos dá um trabalhão danado. Proponho aqui pensar sobre as famílias, a escola  e a educação das meninas. Sobre os meninos escreverei outro artigo.
E assim algumas questões me vêm à mente: há diferenças entre educar meninas e meninas? O que pensam as famílias? E os educadores? Que comportamentos são incentivados ou reprimidos ao educar cada um dos gêneros? A forma de  educar cada gênero realmente mudou no decorrer dos tempos? Pais se dedicam mais às filhas? Mães tem uma admiração especial pelos meninos? Em que isso se fundamenta? Que tipos de comportamentos estão impregnados nas famílias que alimentam a “guerra dos sexos”?
É preciso que nos livremos da lista de papéis que se impõe ao gênero feminino: estar sempre bonita, ser feminina, ser sensível, ser bem comportada, ser pacífica, ser delicada, ser prestativa e acrescentemos na lista, pontos importantes para seu sucesso na vida moderna  tais como: ter objetivos a serem seguidos, ser empreendedora, ser criativa, ser pesquisadora, ser construtora, ser forte, ser batalhadora, ser corajosa, ser independente etc.
Não se trata de substituir uma lista pela outra. Trata-se de ampliar o olhar para que o se espera de uma mulher nos dias de hoje.
É sabido que existem diferenças fisiológicas e consequentemente psicológicas entre meninos e meninas. As meninas amadurecem mais cedo que os meninos, eles têm uma capacidade mais racional, melhor compreensão espacial e geométrica, porém elas têm maior facilidade de comunicação e expressão, intuição e zelo. Além disso, as meninas têm em volta de si, mitos que as rotulam de várias formas. Um exemplo: mulheres têm fama de serem consumistas, o que leva a um pré-conceito de que gastam desmedidamente, são impulsivas e têm falta de critérios para fazer escolhas. Outra situação é a fama de serem mais desequilibradas, mais tendenciosas e muito emotivas.
Em algumas situações vemos pessoas agindo impensadamente reforçando  a ideia da mulher ser o “sexo frágil”, como acontece , por exemplo, quando pedimos a um menino para ajudar-nos a empurrar uma mesa e não fazemos o mesmo pedido a uma menina, como se ela fosse incapaz de tal gesto. Isso também ocorre quando dividimos tarefas entre meninos e  meninas e estampamos nossa predileção dando os afazeres domésticos às meninas.
A sexualidade é outro assunto divergente em muitas famílias. Em muitas delas,  o menino é incentivado a ser o conquistador, o “pegador”, o que se aventura em saídas, enquanto isso as meninas são podadas.
Muita coisa já mudou e hoje a sociedade está se abrindo para equalizar os papéis, porém muito ainda precisa ser feito para que haja uma melhor conscientização das pessoas sobre a igualdade dos gêneros, sejam eles quais e quantos forem.
Ainda há preconceito sim, sobre a roupa curta, sobre os decotes, sobre  a cor dos cabelos, sobre o jeito de sentar, andar e falar como se isso representasse o caráter e os valores da mulher.
A ditadura da beleza, os ditames da moda, aprisionam as meninas e as conduzem  a uma avalanche de cobranças e dores emocionais imensa. E então, o mundo das meninas passa a ser, não tão cor de rosa, como muitos pensam.
A internet e as redes sociais também aprisionam e de certa forma cerceiam, quando dogmatizam e ditam padrões, quando divulgam conceitos distorcidos, quando replicam vídeos desvalorizando a mulher, quando publicam a piada machista, quando expõem a mulher como objeto.
A publicidade se dedica a vender ideias distorcidas e que interessam ao mercado.  Quer vender produtos e ideias e lucrar com isso. É implacável em seu convencimento.
Educar as meninas para que respeitem seus corpos, suas vontades e seus sentimentos e não sejam manipuláveis é obrigação da família que não pode fechar os olhos, nem ser omissa. É necessário não estimular ações precoces, dar autonomia na medida da responsabilidade, orientar para que tenham compromisso com a sua reputação e seus valores, atentar aos seus interesses como forma de acompanhar seu desenvolvimento e torná-lo saudável.
Pode parecer excessiva e até drástica a citação a seguir, mas há é fato que a educação das meninas no sentido mais amplo, leva a resultados positivos no que diz respeito à redução da natalidade e  da mortalidade, diminuição de  doenças e aumento da qualidade de vida de uma sociedade.
Sendo assim, cabe também ao governo e à escola fazerem suas parte. Educadores bem preparados atuam a fim de diminuir o entendimento de superioridade ou inferioridade dos gêneros, de desmistificar o que pode ou deve fazer cada um dos gêneros, incentivam o respeito e as ações complementares entre meninos e meninas, evitando clichês e rótulos estupidamente estabelecidos, não subestimam capacidades, repudiam ações que denigrem o papel da mulher e lutam incansavelmente para estabelecer cortesia e respeito em suas salas de aula.
Só a educação transforma e promove as mudanças que desejamos. Só a educação pode mostrar os benefícios de termos uma sociedade mais igualitária e que luta pelo bem comum, independente de gênero, raça ou classe social. Só a educação poderá criar mais Malalas e menos Barbies.



sexta-feira, 24 de junho de 2016

SER FAMÍLIA DO ESTUDANTE

                                            SER FAMÍLIA DO ESTUDANTE
                              Rosângela silva ( artigo publicado na Revista  www.revistadavila.com.br)

Família e escola devem ter uma parceria forte e sólida em benefício do sucesso pessoal  e escolar do estudante. Sendo escola particular, a visita da família para tomar conhecimento da proposta pedagógica, equipe docente,  segurança, dependências físicas, material didático  é crucial para que a escolha aconteça com clareza e haja um casamento entre as aspirações da família e da escola.
     Na escola pública, embora muitas vezes as famílias não possam escolher a instituição, nada impede o agendamento de uma entrevista com o diretor ou coordenador para um conhecimento mais aprofundado do trabalho ali realizado.
     Cabe à família educar suas crianças e transmitir a elas valores positivos, fundamentais à convivência social. Os modelos recebidos pelas crianças dentro das famílias são determinantes para sua vida pessoal e social.
     Para começar é preciso que dentro da família se estabeleça regras e limites sempre. Pode parecer contraditório, mas a verdade é que as crianças e adolescentes clamam por isso. As regras dão segurança e determinam modos  de agir  e responder às questões impostas pelo cotidiano.
     Outra forma da família atestar seu interesse na vida estudantil do aluno é providenciando materiais solicitados com presteza e pontualidade, dando condições para que o trabalho se efetive com mais agilidade na sala de aula.
     É muito bom também que a família oriente os filhos a seguirem o regulamento da escola, evitando estimular regras especiais para eles e procurem evitar faltas desnecessárias em dias letivos.
     Participar da vida escolar, frequentar as reuniões e eventos, cobrar a realização dos deveres e estudos diários também fortalecem a parceria e mostram ao estudante o desejo, dentro de casa, do seu sucesso escolar.
     Cabe às famílias apoiar o trabalho das escolas, uma vez que conheceram a linha de trabalho da instituição, questionaram o modo dela atuar diante das ocorrências disciplinares, discutiram sua visão filosófica e formas de comunicação, precisam confiar que as ações dos profissionais estarão coerentes com sua proposta educacional.
     Dar credibilidade ao trabalho feito pela escola valida sua escolha e mostra ao estudante que a família apoia e está do lado da instituição. Lembrando aqui,  que num conflito, sempre é muito bom ouvir os dois ou mais lados em questão, com o intuito de entender a ocorrência de forma completa. Tanto para a escola, como para o estudante, isso mostra o interesse e acompanhamento da família na vida do aluno. Caso seja necessário é muito válido que a família solicite uma retratação por parte do estudante.
     Certamente uma boa escola, procurará agir com responsabilidade e seriedade nas ocorrências diversas que se listam diariamente em suas dependências, mas todas são passíveis de erro. Quando a escola errar, deve ser questionada e levada a pensar suas ações.
     Cabe também às famílias agir com confiança e generosidade nas críticas. Uma vez que haja um equívoco por parte da escola, de nada adiantará falar mal dos profissionais na frente do filho envolvido, alarmar outros pais no portão ou ainda  postar a ocorrência nas redes sociais. A ação assertiva é procurar a direção ou coordenação para conversar e juntos encontrarem o melhor caminho para solucionar a questão.
     Aprender com os erros é muito bom para todos os envolvidos, tirando uma lição positiva dos episódios ruins se aprende grandes ensinamentos. Saber que o erro é a porta para a aprendizagem ensina a todos, pais, alunos e escola a superar dificuldades, rever ações, retomar e consertar atitudes equivocadas, possibilitando o exercício da humildade e da sabedoria.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

É pra você...

É para você
Inspirada na música Per Te - Jovanotti.

É para você que as pitangas amadurecem,
É para você que a lua fica bem cheia,
É para você todos os sonhos de todas as padarias,
É para você  a música “Ela só que paz”,
E a  cor de toda a maquiagem.
É para você o 19 de junho,
É para você que se criou o sushi,
É para você tudo que existe, NINANÁ, NINAIÊ.

É para você que às vezes venta mansinho,
É para você o sorriso dos amigos,
É para você as festas  e carinhos,
É para você o “vamos cheirar a noite”
É para você a cor do sol amanhecendo,
E os desenhos formados nas nuvens,
É para você o suco da laranja no café da manhã,
É para você o vermelho do molho do macarrão,
É para você tudo que existe, NINANÁ, NINAIÊ.

É para você o perfume das flores abertas,
É para você a vitrine decorada,
É para você o passeio no shopping,
E o cinema à tarde,
É para você o acordar tarde no sábado,
A poesia que sua mãe escreve,
É para você o domingo preguiçoso,
É para você a rua sem trânsito,
É para você tudo que existe, NINANÁ, NINAIÊ.


É para você o fazer e o refazer,
É para você a amoreira no quintal de casa,
É para você o tapete colorido de flores sob as árvores,

É para você que existem os temperos,
É para você que existe o sim e o não,
É para você o carinho da família,
É para você tudo que existe

NINANÁ, NINAIÊ...

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Ser aluno

O terceiro texto fala como ser um aluno de sucesso, de que forma a família podem contribuir nessa empreitada e os anseios da escola.

                                                                                       SER ALUNO
                                  Rosângela silva ( artigo publicado na Revista  www.revistadavila.com.br)

Ser aluno é colocar-se na condição de aprendiz e isso é possível ocorrer muitas vezes,  todos os dias. Ninguém torna-se aluno apenas por sentar-se nos bancos  escolares. Se encontra na situação de aluno, a criança que observa a vó tecer um tapete, a outra que assiste a mãe fazer um bolo, o menino que vê o pai consertar o pneu, a garota que acompanha o irmão  jogar damas, um adulto que assiste à uma palestra on-line, uma pessoa que escuta uma entrevista no rádio. O  texto “Ser aluno” procura retratar o perfil do bom estudante e de que forma a família e  a escola podem colaborar para o seu sucesso.
 Para isso é preciso situá-lo no atual contexto social. Hoje vivemos uma sociedade com grande crise ética, política e social na qual os valores positivos e a capacidade de empatia e respeito estão em queda. A família também vive seus conflitos, assim como a escola.
Muitos pais parecem perdidos quanto ao seu papel, quanto ao que o filho pode ou não em cada fase que vive, quanto à forma melhor de educar, quanto ao modo de aplicar sanções, quanto à maneira de estabelecer regras.
Crianças e adolescentes cada vez mais hedonistas, mimados e centralizadores chegam às escolas, que muitas vezes também não sabem como lidar ou estabelecer seus limites.
 A escola, por sua vez,  espera que cheguem ao seu espaço em qualquer tempo que for, alunos que primeiramente saibam acatar comandos, regras e  respeitar autoridades. Cabe às famílias estabelecerem esse critério, para que seus filhos tenham dimensão de como agir  e viver adequadamente nesse espaço coletivo que necessita de ordem, regras  e respeito entre os que convivem.
Como chegar às escolas com esse preparo,  se muitas vezes os filhos tomam as decisões em casa, mandam e decidem conforme seu interesse próprio, sem ter consequências colocadas que os levem a aprender e amadurecer com os erros?
Escolas incentivam organização. Um aluno organizado tem vantagens sobre colegas que não possuem essa característica. E um adulto organizado começa a ser moldado em casa quando a a criança, guarda seus brinquedos, roupas e sapatos, quando um adolescente arruma sua cama e suas gavetas, por exemplo.
Professores alegram-se com alunos estudiosos e responsáveis com seus deveres. Estudar diariamente e fazer os deveres de casa  são atitudes que contribuem para o sucesso de qualquer estudante. Esse é um grande desafio para pais e escolas, pois a maioria das crianças e adolescentes têm dificuldade de cronometrar seu tempo e dividi-lo entre os estudos e o lazer. Especialmente os adolescentes, perdem-se diante da sedução dos aparelhos tecnológicos, que enfeitiçam e roubam tempo. Tempo que poderia ser melhor aproveitado, inclusive com propostas familiares de lazer mais atraentes e que levassem a garotada a sair do sedentarismo,  que certamente contribuiriam para um desenvolvimento mais saudável e completo.
Educadores sabem da importância da autonomia para  o sucesso escolar. As famílias podem contribuir com as escolas estimulando  as crianças  nesse aspecto. Desde cedo é muito importante que os pais não façam por seu filhos,  aquilo que já são capazes de realizar sozinhos. Assim, vão crescendo autônomos, capazes de agir e fazer as tarefas que lhe chegam, com mais independência. Diversas oportunidades de escolha podem ser dadas às crianças e  adolescentes para que treinem a capacidade de escolher por si mesmos e assim exercitarem momentos de autonomia.
Na escola, os mestres valorizam também a iniciativa, que é outro quesito importante que agrega sucesso aos estudantes. Aqueles que não necessitam de supervisão frequente, que são capazes de iniciar propostas, enfrentar desafios, agir espontaneamente  sobressaem-se sobre os demais estudantes. Os pais podem colaborar para que seus filhos sejam sujeitos mais prontos para realizar as tarefas, estimulando e elogiando suas iniciativas. Muitas vezes, até sem querer ou perceber os pais limitam o interesse e a iniciativa de seus filhos e isso poda a sua disponibilidade natural e o seu ânimo.
Alunos que iniciam propostas e são capazes de concluí-las também têm grande reconhecimento na escola. A procrastinação é hoje um dos grandes desafios dos professores na sala de aula, pois muitos alunos resistem, enrolam e vão deixando os compromissos para depois. Em casa, os pais ajudam muito, se cobrarem a finalização das tarefas, estabelecendo tempo e a forma adequada de execução. Crescendo assim, as crianças vão se sentindo confiantes, capazes e treinando a habilidade de realizar as tarefas que lhe são postas.
Para os professores a  conclusão e entrega pontual das tarefas credita ao aluno o respeito aos prazos e a capacidade de  corresponder às solicitações.
O fator atenção é um quesito importante na sala de aula. Grande parte dos alunos de hoje têm dificuldade de concentrar sua atenção nas aulas, sejam elas expositivas ou até mesmo práticas.
O acesso a milhares de informações do mundo interativo é positivo, porém, ao mesmo tempo dificulta a capacidade de atenção prolongada, o que resulta em estudantes agitados, impulsivos e bastante desatentos. O excesso de estímulos acaba saturando e impossibilitando o exercício da atenção.
Os espaços escolares clamam por alunos participativos, questionadores, que dão ideias e sugestões. Alunos assim,  enriquecem a sala de aula, engrandecem os conteúdos, ampliam as oportunidades de aprendizagem. Por isso, as famílias devem cuidar para que haja em suas casas espaço para perguntas, ideias, criações e formas diversas da criança participar da dinâmica das tarefas, dos projetos e da organização cotidiana.
Dessa habilidade forma-se o aluno que não leva dúvidas para casa, que levanta questões, que escava os conteúdos até chegar à compreensão do assunto.
 E a escola se agiganta  quando alunos compartilham os conhecimentos com os colegas e dividem o conteúdo que aprenderam. Essa  é uma habilidade importante que contribui para ambos os lados. De um lado o aluno ao explicar ou tirar dúvidas dos seus colegas, reforça ainda mais e amplia o seu próprio conhecimento. Já o colega que recebeu a informação pode se apropriar de algo que ignorava.
Crédito mesmo tem na escola o aluno esforçado. O esforço, o desejo de conquistar algo, a braveza para superar dificuldades e lacunas, também contam muito e diferenciam um aluno do outro.
Essa reflexão pretende compartilhar informações e  lista algumas habilidades pessoais que ajudam e levam o estudante a “tirar de letra” a  escola, sem a pretensão de padronizar pessoas, comportamentos ou conceitos.
Pessoas são singulares. Alunos são todos diferentes e chegam à escola cada um com suas características. De forma alguma deve-se esperar que cheguem formatados, prontos e robotizados.
Num mundo globalizado e tecnológico como esse, os alunos chegam à escola com muitos conhecimentos. Cabe à escola oferecer espaço para que eles reelaborem esses conhecimentos, façam ligações, vejam esses domínios sob novas perspectivas, com novas “aplicabilidades” e também possam empregar e produzir novas informações, criar novos conteúdos, passando de recebedores para produtores de cultura. Talvez seja esse um caminho para  envolver os alunos com a aprendizagem e fazê-los comprometerem-se com ela.

terça-feira, 19 de abril de 2016

SER PROFESSOR

O segundo texto “Ser professor” elenca o papel desse profissional nos tempos atuais. O terceiro texto “Ser aluno” coloca em pauta a necessidade de conhecer o perfil do aluno e suas necessidades. Por fim, o último texto “Ser família do estudante” discute a participação das famílias impulsionando o sucesso escolar das crianças e jovens.

                                                                              SER PROFESSOR

                             Rosângela silva ( artigo publicado na Revista  www.revistadavila.com.br)
Hoje no nosso segundo texto “Ser professor” o texto elenca o papel desse profissional nos tempos atuais. Peça norteadora do processo ensino-aprendizagem, o professor é o grande responsável pelo desenvolvimento e encaminhamento da sua turma. É ele quem planeja, entusiasma, articula ideias, escolhe metodologias, integra saberes e linguagens e tem o mapa de onde quer chegar.
Coragem, ousadia, criatividade e capacidade de inovação são quesitos importantíssimos para professores que querem fazer a diferença na vida de seus alunos, especialmente nos dias atuais em que os alunos esperam que tudo seja rápido, eficiente e funcional.
Como o conhecimento renova-se a cada dia e pode chegar até a se contradizer, tamanha rapidez das pesquisas, teorias e mudanças, o  professor precisa ser um aprendiz contínuo e um grande curioso. Aquele que na  área da educação (ou qualquer área) acredita já saber tudo ou já estar completamente pronto, pouco poderá ensinar aos  seus alunos, especialmente sobre humildade e capacidade de recriar-se .
Professor é mediador de aprendizagem, mas para que isso aconteça precisa conhecer seus alunos, saber um pouco dos seus gostos e preferências, seus interesses e sonhos.
Integrar conhecimentos é outra tarefa que cabe ao professor, juntando  os conteúdos, aproximando saberes, misturando assuntos que aparentemente são desconectados.
Ser ou não um bom professor depende da capacidade de entrega de cada profissional ao seu ofício. Há aqueles que ao adentrarem à sala de aula, entregam-se com tanto amor, dedicação e profissionalismo que não deixam para trás nenhum dos seus aprendizes. Caminham junto com eles e vão extraindo de cada um, aqueles saberes escondidos, rejeitados, desconsiderados e assim, vão impulsionando o conhecimento a brotar. Criam condições para seus alunos caminharem, removendo obstáculos, pegando atalhos, tirando pedras do caminho. São professores que abrem-se para o outro, dando significado às pessoas, à escola e à aprendizagem.
Estes não são apenas “dadores” de aula, são de fato educadores. Dar aulas é bem mais fácil do que ser professor. Dar aulas implica em planejar, organizar as estratégias e passar seu conhecimento. Ser professor é mergulhar nas profundezas do mar incerto e desafiador, que é a sala de aula, e ir se aprofundando, explorando, conhecendo de verdade aqueles que ali estão.
Numa sala de aula, repleta de pessoas diferentes, com valores, crenças, vontades, ritmos, ideias e sonhos pessoais confrontando-se e até chocando-se constantemente, cabe ao professor acolher essas diferenças. Ao mesmo tempo precisa integrar e misturar todas essas informações para extrair dessa mistura conhecimentos e aprendizagens para serem compartilhados entre  todos.
Ser professor é se deixar envolver por cada aluno, é indignar-se quando ele não corresponde, não quer avançar, rejeita “a comida” que se está oferecendo. É continuar insistindo, buscando e acreditando que haverá outro jeito, outra forma dele aceitar seu alimento, seu conhecimento.
Professor, ser responsável pela transformação social que todos sonhamos e que sabemos começar em casa e se solidificar nos bancos escolares.
Professor, ser admirável, que dá referências, que projeta, que desvenda mistérios, que provoca insights, que deve cercar-se de pensamento reflexivo e crítico sendo modelo  e fonte de inspiração ao seu aluno. E aqui, ouso plagiar a ideia de Rubem Alves de que o aluno quando admira seu mestre, faz seu coração dar ordens à inteligência para aprender as coisas que o mestre sabe. Saber o que o mestre  sabe, passa a ser uma forma de estar com ele. Aprende porque ama. Aprende porque admira.
Um bom professor é aquele que junta três saberes importantíssimos que o capacita para estar à frente da sala de aula. O primeiro  saber é domínio de seu conteúdo, sem esse conhecimento nenhum professor inspira, convence, causa espanto ou encantamento. Outro saber necessário  está ligado às práticas usadas em sala de aula. O uso de  eficientes e interessantes recursos metodológicos atrai, motiva  e aproxima o aluno da aprendizagem.  O terceiro saber trata da habilidade de relacionar-se. Tendo bom autoconhecimento e empatia o professor saberá lidar com os conflitos dando bom encaminhamento a eles, não se deixando atingir emocionalmente por situações que podem sabotar a sua aula. Esse quesito contribui para que o professor coloque-se no lugar do aluno, entenda suas motivações e possa atuar com inteligência e condição emocional positiva na resolução dos problemas.
 O reflexo  das mudanças da sociedade dos últimos tempos associado ao descaso dos governantes com a educação em nosso país tem como resultado o fato de que cada  vez mais chegam à sala de aula, professores mal formados, sem domínio do conteúdo que lecionam, escrevendo mal, inseguros quanto ao formato de sua aula, às vezes autoritários demais e em outras vezes frouxos com a disciplina. Também chegam duvidosos quanto aos recursos pedagógicos, às metodologias e às estratégias, sem saber por vezes, como e por onde começar. E tão grave quanto às dificuldades anteriores, chegam sem conhecerem a si mesmos, nem sua clientela e suas fases de desenvolvimento e motivações.
Todas essas defasagens vão dificultar o entrosamento e levam a uma ruptura grave de comunicação, que torna ineficiente a aprendizagem.
Somando-se a tudo isso, esses professores entram em contato nas salas de aula com a chamada “geração multitarefa” que se apresenta robotizada pela tecnologia, inquieta e com dificuldade de permanecer atenta, que muda rapidamente seu ponto de concentração, que não sabe esperar e deseja que tudo seja rápido, eficiente e prazeroso, que quer resultados, com pouco esforço, que tem pouca paciência e capacidade de contemplação. E mais, falta-lhe limite e educação vindos de casa.
Tem-se então um quadro caótico em que o professor acaba não dando conta de executar bem o seu trabalho,  sente-se sobrecarregado com tantas atribuições que lhe são dadas,  o que traz desmotivação, frustração e desânimo a uma boa parcela desses professores. Poucos encontram força na sua motivação pessoal para fazer a diferença.
SER PROFESSOR, ou melhor SER BOM PROFESSOR diante de tantas adversidades é o grande desafio. Conseguem ser bem sucedidos no ofício aqueles que de fato têm amor pela profissão e conseguem encontrar realização com os pequenos feitos diários.
Esses professores se alimentam da energia poderosa que vem das crianças e adolescentes, assim como da sua alegria, da sua vivacidade, da sua brincadeira despretensiosa, da criatividade que aflora de suas invenções, do riso e da gargalhada que contaminam e fazem dar graça àquilo tudo que o mundo adulto racionaliza.
Para terminar uma fala do grande professor, Paulo Freire, que com seu texto simples, quase nos dá a receita pronta de como  exercer a profissão: “É assim que venho tentando ser professor, assumindo minhas convicções, disponível ao saber, sensível à boniteza da prática educativa, instigado por seus desafios que não lhe permitem burocratizar-se, assumindo  minhas limitações, acompanhadas sempre do esforço de superá-las, limitações que não procuro esconder em nome mesmo do respeito que me tenho e aos educandos”.