sábado, 15 de outubro de 2016

As paralimpíadas e seus atletas inteiros


Texto publicado na Revista D'Avila
http://www.revistadavila.com.br/2016/09/as-paralimpiadas-e-seus-atletas-inteiros/

As paralimpíadas deixaram lições a todos que assistiram as competições. Sabemos que o público compareceu em grande massa para assistir e vibrar com os atletas e, se não temos tantos heróis para inspirar nossas crianças e adolescentes, que essa tenha sido uma oportunidade grande para eles  se confrontarem com exemplos positivos e inspiradores.
Na abertura,  um momento marcante foi a dança da atleta, modelo e atriz Amy Purdy com um robô, lindo de ver a interação e a harmonia entrelaçadas entre o humano e a máquina. Uma relação necessária, complementar, inteira por si só.
E isso pudemos ver ao longo das disputas quando admirávamos a velocidade, a ousadia e a precisão dos atletas.  Deles e de suas próteses avançadas, suas cadeiras aperfeiçoadas, seus assentos confortáveis , seus apoios e adaptadores ajustados às suas necessidades. Realmente muito a se admirar e agradecer em relação ao avanço tecnológico que nos acompanha, e que garante além de qualidade de vida, um viver mais digno e possibilitador  de inclusão às pessoas com  deficiências.
Ao vermos todos aqueles esportistas com suas limitações quebrando recordes, dando o melhor de si, criando formas de adequarem suas deficiências à  modalidade escolhida, dá uma vergonha das reclamações dos nossos pequenos problemas cotidianos. Vergonha de me irritar com o barulho do vizinho do apartamento ao lado,  vergonha de reclamar de uma dorzinha de cabeça, vergonha de me queixar de nesse mês não deu para comprar o celular novo que queria,  vergonha de dizer que não tenho roupa nova para sair,  vergonha da histeria frente à uma fila que empaca, vergonha de me queixar que hoje bati o cotovelo na quina da mesa, vergonha de reclamar que meu pai não deu a quantidade de dinheiro que pedi para sair, vergonha de pedir para parar de chover porque eu ia à praia, vergonha de falar que o sol está forte demais para eu ir a pé até a escola, vergonha de me queixar que o vento espalhou folhas na minha calçada, vergonha de amaldiçoar meu cabelo que está com frizz, de repetir que estou magra(ou gorda) demais, ou de reparar na cintura larga da minha amiga, ou na falta de bunda da outra.
Nas disputas,  atletas inteiros na dedicação, na busca por superação, na força para atingir seus objetivos.
Atletas completos na inspiração que deixaram, na marca que registra que não há limites para os sonhos.
Atletas gigantes na determinação e nas afirmações: “eu posso”, “eu consigo”, “eu vou além”.
Que muitos tenham tido a possibilidade de mostrar aos seus filhos ou alunos essas referências, esses ícones tão especiais e eficientes nas suas buscas. Que tenham podido escancarar para eles, que o mundo é amplo e que vai além dos muros das suas casas.
Que o hedonismo dessa geração possa sofrer provocações como essa que desestabilize o seu ego gigantesco, o seu “querer sempre mais”, o seu “olhar para o próprio umbigo”, o seu “você não manda em mim”, o seu “eu sou a pessoa mais importante nessa casa”, o seu “faz porque meu pai está  pagando”.
Medalhas de ouro a todos os educadores e pais que ampliaram olhares e valores através das paralimpíadas.

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