sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Sensibilizar e fortalecer

Não há receitas prontas para educar os filhos, para fazê-los serem pessoas de sucesso, para transformá-los em  pessoas éticas.
Não há fórmulas certas, nem formas que possamos colocá-los e depois de um tempo brotar o sonhado filho.
Há sim atitudes e ações cotidianas que podem ajudar a formar um indivíduo mais atento, sensível e ético.
Como querer ter um filho sensível sem vivenciar sensibilidade?
Como sonhar com um filho ético, sem exercitar essa prática?
Como vislumbrar um filho empreendedor se tratá-lo como um “bebezão” incapaz?
Outro dia vi uma adolescente pedir para a mãe parar o carro para que fotografasse uma linda árvore forrada por um tapete de  flores no chão. A mãe parou! Era uma cena linda! Antes de fotografar a árvore realmente a menina, já a tinha fotografado na mente. Olhou, se sensibilizou, gostou do que viu e então veio o ato de fotografar para o registro.
A mesma menina foi premiada recentemente em um concurso de fotografias da cidade. Andava com o pai pela cidade, passaram por um lugar bonito, o pai chamou-lhe a atenção e sugeriu a foto. Ficou lindo o registro a ponto da foto ser premiada. Mérito só da garota?
Claro que não, se o pai não lhe mostrasse e não lançasse o desafio da foto, talvez ela sozinha não percebesse a beleza daquele momento.
Nesses dois exemplos fica clara a importância do “despertamento”, do incentivo, do “treinar o olhar” para as coisas belas que se expõe ao nosso redor.
Sem tempo para observar e conhecer os filhos não é possível transformar pequenos instantes em ricas aprendizagens de vida.
Sem disponibilidade para estar com os filhos e gastar nosso tempo com eles, não é possível entender como pensam e como resolvem seus conflitos.
Sem coragem para abdicar de si mesmo em favor da educação e fortalecimento dos filhos não é possível intitular-se pai ou mãe.

Rosângela Silva

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A cristaleira da minha avó

A cristaleira da minha avó
Rosângela Silva

     Algumas imagens adormecem em nossas memórias e são despertadas de repente quando situações da vida real a convocam. Dia desses, visitei a casa da minha tia Maria, onde muitos objetos da minha avó materna se encontram e sentei-me na mesa para o café da tarde. Num instante meu olhar parou em frente à velha cristaleira e meu pensamento voou ao passado.
     Cristaleiras são móveis mágicos, encantadores. Guardam coisas de valor, taças e copos especiais, suvenires trazidos de alguma viagem, mimos recebidos de alguém especial, miniaturas vindas de algum lugar. Cristaleiras adornam nossa casa e nossas emoções.
     Recordei então momentos da infância, quando aqueles pequenos objetos contidos pela cristaleira, guardados nela como preciosidades, me encantavam e me faziam mergulhar num mundo de fantasias sem igual.
       Hipnotizada por eles, meu olhar captava um por um. Em cada objeto uma viagem fantástica. Um jogo de café, com desenhos de flores azuis, hoje sem mais as xícaras que o acompanhavam, feitas em cacos, ao longo do tempo. Uma jarra de suco com seis copos com borda dourada, que eu acreditava ser desenhada realmente com ouro.
      Bichinhos de louça. Muitos deles: três gatinhos e três patinhos idênticos, galo, cachorrinhos muitos, um elefante vermelho, um burrinho de madeira carregado de lápis de cor.
      Muitas jarrinhas também de louça, copos e xícaras de diferentes tamanhos e diversos modelos.
      A cristaleira da vó Mariinha ficava na sala de uma casa com várias quartos, cozinha grande, copa, alpendre, janelas e portas amplas e chão assoalhado de madeira, à disposição de todos, mas permanecia trancada sempre. Só podíamos contemplar suas maravilhas do lado de fora, era como o fruto proibido.
      Antigamente as cristaleiras simbolizavam luxo e sofisticação. Eram símbolos de respeito e cuidado estabelecidos às crianças. Deve ser por isso que hoje embelezam as casas dando sensação de conforto, calor e aconchego.
      Da vó Mariinha, além da recordação da cristaleira, também é forte a lembrança das suas rezas diárias embaixo de cada oratório e imagens sagradas que ficavam expostos em  sua sala e do calor aconchegante das suas colchas de retalhos que me acolhiam nas manhãs geladas do inverno, quando eu despertava cedo do meu colchão de palha e corria para sua cama. Ali me aguardavam duas ou três balas doces debaixo do travesseiro e um aconchego caloroso, inesquecíveis.