terça-feira, 19 de abril de 2016

SER PROFESSOR

O segundo texto “Ser professor” elenca o papel desse profissional nos tempos atuais. O terceiro texto “Ser aluno” coloca em pauta a necessidade de conhecer o perfil do aluno e suas necessidades. Por fim, o último texto “Ser família do estudante” discute a participação das famílias impulsionando o sucesso escolar das crianças e jovens.

                                                                              SER PROFESSOR

                             Rosângela silva ( artigo publicado na Revista  www.revistadavila.com.br)
Hoje no nosso segundo texto “Ser professor” o texto elenca o papel desse profissional nos tempos atuais. Peça norteadora do processo ensino-aprendizagem, o professor é o grande responsável pelo desenvolvimento e encaminhamento da sua turma. É ele quem planeja, entusiasma, articula ideias, escolhe metodologias, integra saberes e linguagens e tem o mapa de onde quer chegar.
Coragem, ousadia, criatividade e capacidade de inovação são quesitos importantíssimos para professores que querem fazer a diferença na vida de seus alunos, especialmente nos dias atuais em que os alunos esperam que tudo seja rápido, eficiente e funcional.
Como o conhecimento renova-se a cada dia e pode chegar até a se contradizer, tamanha rapidez das pesquisas, teorias e mudanças, o  professor precisa ser um aprendiz contínuo e um grande curioso. Aquele que na  área da educação (ou qualquer área) acredita já saber tudo ou já estar completamente pronto, pouco poderá ensinar aos  seus alunos, especialmente sobre humildade e capacidade de recriar-se .
Professor é mediador de aprendizagem, mas para que isso aconteça precisa conhecer seus alunos, saber um pouco dos seus gostos e preferências, seus interesses e sonhos.
Integrar conhecimentos é outra tarefa que cabe ao professor, juntando  os conteúdos, aproximando saberes, misturando assuntos que aparentemente são desconectados.
Ser ou não um bom professor depende da capacidade de entrega de cada profissional ao seu ofício. Há aqueles que ao adentrarem à sala de aula, entregam-se com tanto amor, dedicação e profissionalismo que não deixam para trás nenhum dos seus aprendizes. Caminham junto com eles e vão extraindo de cada um, aqueles saberes escondidos, rejeitados, desconsiderados e assim, vão impulsionando o conhecimento a brotar. Criam condições para seus alunos caminharem, removendo obstáculos, pegando atalhos, tirando pedras do caminho. São professores que abrem-se para o outro, dando significado às pessoas, à escola e à aprendizagem.
Estes não são apenas “dadores” de aula, são de fato educadores. Dar aulas é bem mais fácil do que ser professor. Dar aulas implica em planejar, organizar as estratégias e passar seu conhecimento. Ser professor é mergulhar nas profundezas do mar incerto e desafiador, que é a sala de aula, e ir se aprofundando, explorando, conhecendo de verdade aqueles que ali estão.
Numa sala de aula, repleta de pessoas diferentes, com valores, crenças, vontades, ritmos, ideias e sonhos pessoais confrontando-se e até chocando-se constantemente, cabe ao professor acolher essas diferenças. Ao mesmo tempo precisa integrar e misturar todas essas informações para extrair dessa mistura conhecimentos e aprendizagens para serem compartilhados entre  todos.
Ser professor é se deixar envolver por cada aluno, é indignar-se quando ele não corresponde, não quer avançar, rejeita “a comida” que se está oferecendo. É continuar insistindo, buscando e acreditando que haverá outro jeito, outra forma dele aceitar seu alimento, seu conhecimento.
Professor, ser responsável pela transformação social que todos sonhamos e que sabemos começar em casa e se solidificar nos bancos escolares.
Professor, ser admirável, que dá referências, que projeta, que desvenda mistérios, que provoca insights, que deve cercar-se de pensamento reflexivo e crítico sendo modelo  e fonte de inspiração ao seu aluno. E aqui, ouso plagiar a ideia de Rubem Alves de que o aluno quando admira seu mestre, faz seu coração dar ordens à inteligência para aprender as coisas que o mestre sabe. Saber o que o mestre  sabe, passa a ser uma forma de estar com ele. Aprende porque ama. Aprende porque admira.
Um bom professor é aquele que junta três saberes importantíssimos que o capacita para estar à frente da sala de aula. O primeiro  saber é domínio de seu conteúdo, sem esse conhecimento nenhum professor inspira, convence, causa espanto ou encantamento. Outro saber necessário  está ligado às práticas usadas em sala de aula. O uso de  eficientes e interessantes recursos metodológicos atrai, motiva  e aproxima o aluno da aprendizagem.  O terceiro saber trata da habilidade de relacionar-se. Tendo bom autoconhecimento e empatia o professor saberá lidar com os conflitos dando bom encaminhamento a eles, não se deixando atingir emocionalmente por situações que podem sabotar a sua aula. Esse quesito contribui para que o professor coloque-se no lugar do aluno, entenda suas motivações e possa atuar com inteligência e condição emocional positiva na resolução dos problemas.
 O reflexo  das mudanças da sociedade dos últimos tempos associado ao descaso dos governantes com a educação em nosso país tem como resultado o fato de que cada  vez mais chegam à sala de aula, professores mal formados, sem domínio do conteúdo que lecionam, escrevendo mal, inseguros quanto ao formato de sua aula, às vezes autoritários demais e em outras vezes frouxos com a disciplina. Também chegam duvidosos quanto aos recursos pedagógicos, às metodologias e às estratégias, sem saber por vezes, como e por onde começar. E tão grave quanto às dificuldades anteriores, chegam sem conhecerem a si mesmos, nem sua clientela e suas fases de desenvolvimento e motivações.
Todas essas defasagens vão dificultar o entrosamento e levam a uma ruptura grave de comunicação, que torna ineficiente a aprendizagem.
Somando-se a tudo isso, esses professores entram em contato nas salas de aula com a chamada “geração multitarefa” que se apresenta robotizada pela tecnologia, inquieta e com dificuldade de permanecer atenta, que muda rapidamente seu ponto de concentração, que não sabe esperar e deseja que tudo seja rápido, eficiente e prazeroso, que quer resultados, com pouco esforço, que tem pouca paciência e capacidade de contemplação. E mais, falta-lhe limite e educação vindos de casa.
Tem-se então um quadro caótico em que o professor acaba não dando conta de executar bem o seu trabalho,  sente-se sobrecarregado com tantas atribuições que lhe são dadas,  o que traz desmotivação, frustração e desânimo a uma boa parcela desses professores. Poucos encontram força na sua motivação pessoal para fazer a diferença.
SER PROFESSOR, ou melhor SER BOM PROFESSOR diante de tantas adversidades é o grande desafio. Conseguem ser bem sucedidos no ofício aqueles que de fato têm amor pela profissão e conseguem encontrar realização com os pequenos feitos diários.
Esses professores se alimentam da energia poderosa que vem das crianças e adolescentes, assim como da sua alegria, da sua vivacidade, da sua brincadeira despretensiosa, da criatividade que aflora de suas invenções, do riso e da gargalhada que contaminam e fazem dar graça àquilo tudo que o mundo adulto racionaliza.
Para terminar uma fala do grande professor, Paulo Freire, que com seu texto simples, quase nos dá a receita pronta de como  exercer a profissão: “É assim que venho tentando ser professor, assumindo minhas convicções, disponível ao saber, sensível à boniteza da prática educativa, instigado por seus desafios que não lhe permitem burocratizar-se, assumindo  minhas limitações, acompanhadas sempre do esforço de superá-las, limitações que não procuro esconder em nome mesmo do respeito que me tenho e aos educandos”.