quarta-feira, 16 de julho de 2014

Lições da Copa

       A copa do mundo acabou e deixa várias lições para todos nós.
      Comparar o jogo no campo de futebol com a vida, com a sala de aula e com os ganhos e perdas que nos acompanham sempre é uma tarefa que nos leva a aprendizagens diversas. 
      Na família, no trabalho, nas relações de amizade, na escola sempre aprendemos grandes lições de como formar um bom time para vencer os obstáculos e atingir juntos nossos objetivos. Nessas relações nem sempre ganhamos, acertamos  ou somos aceitos com nossa forma de ser e agir e aí está a fórmula para se aprender sobre convivência.
     Mesmo vivendo em grupo na maioria do nosso tempo, muitas vezes nos vemos em disputas e competições que nos afastam e nos fazem compor um grande time de narcisistas, cada um pensando em brilhar mais que o outro.
     Pensar alguns comparativos dos jogos com a vida nos alimenta para o enfrentamento das ocorrências diárias.
     Hoje o mundo cobra das pessoas que desempenhem bem várias funções. Não dá mais para contratar aquele funcionário que só sabe fazer  bem um único trabalho. Nos bancos escolares os educadores esforçam-se para estimular nos alunos o treinamento de várias habilidades. Então, copiemos  o jogador alemão Schweinsteiger que atuou em campo desempenhando várias funções, indo da defesa ao ataque.O craque não ficou preso apenas às tarefas da sua posição. Foi além, ousou, criou,foi multifuncional.
      A sociedade impõe regras e normas de convivência, mesmo assim, às vezes há injustiças  e erros em nosso meio. Não devemos esmorecer. Assim como Messi não deveria ter ganho a bola de ouro como melhor jogador da copa, também presenciamos situações equivocadas e  não podemos nos desestimular ou paralisar. É preciso agir independentemente das adversidades.
     Neuer sim, mereceu ser eleito o melhor goleiro da copa. Ousado pelas jogadas arriscadas que faz, não se limita a esperar os ataques do adversário, está sempre estudando os passes e fazendo lançamentos certeiros, atuando como se fosse  mais um jogador em campo somando aos seus outros 10 colegas de linha. Assim devemos nos espelhar no goleiro-linha em nossas jogadas na vida, não dá para ficar parado esperando o adversário e a bola chegarem. Sejamos ousados e criativos em nossa trajetória.
     As novas exigências do mercado cobram organização e planejamento das empresas e seus funcionários. Como conviver com chefes que não planejam, não estudam seus projetos, não promovem treinos constantes e “apertados” e não têm plano B? A teimosia e inflexibilidade do nosso técnico Felipão mostraram que nenhuma equipe vai longe sem estudo, planejamento e treinamento. Bons resultados não nascem apenas da confiança.
     Nossa seleção deixou muitos espaços vazios, mostrando falta de entrosamento, de treino e de organização. Times bons fecham combinados, combinam  jogadas, dedicam-se às tarefas e suam a camisa até o final do jogo.
     Outra lição é que a experiência nem sempre é tudo.  Bastou a menino Mario Götze sair do banco de reservas, treinado, confiante, seguro para marcar o gol do título. Uma equipe otimista e incentivada, preenche os espaços vazios com seriedade e comprometimento.
    Perder a copa é triste. Mais triste ainda é saber que amanhã os jogadores e administradores da seleção não vão saltar da cama cedo, destinados a começar uma nova etapa com garra  e vontade de vencer como fazem milhões de brasileiros, campeões na disposição e na coragem.



segunda-feira, 14 de julho de 2014

Os 80 anos da Tia Lica



     Filhos nascidos dela mesma foram 6:  Benedito, Raimundo, Regina, Cida, Clarice e Alice, mas são muitos os que ela adotou, cuidou, criou, orientou e mostrou o mundo.
     Minhas memórias não conseguem voltar muito atrás, mas o que me lembro é de uma mulher forte, com liderança aprendida da necessidade, falante, boa negociadora, ímpar como gerenciadora de conflitos, mulher de atitude e de fibra.
      O pouco estudo e letramento não foram suficientes para colocar-lhe barreiras na vida. Criou e estudou os filhos, deu de comer e de vestir a eles e a muitos agregados que chegavam às suas portas. Trabalhou duro, incentivou o crescimento de muita gente, pôs juízo na cabeça de muitos.
      Sempre altiva e autoritária, não dava muitas brechas ao acaso. Decidia, mandava, imperava em sua casa, com os filhos e demais pessoas da vizinhança. Até hoje sabe debater e argumentar muito bem e é capaz de ganhar as discussões com poucas palavras.
     Sua casa era grande no tamanho e no aconchego, estava sempre cheia, muito falatório, assunto que não acabava mais. Um lugar quente, acolhedor, que fartava de colo e ensinamentos.
      Ensinamentos vindos das conversas, das orientações e até das broncas. Broncas, muitas broncas nos filhos, às vezes teimosos, nos sobrinhos que saíam fora do trilho, na molecada da vizinhança que não parava de fazer arte e causar aquelas brigas comuns da infância,  nos funcionários que não trabalhavam direito.
      Ensinamentos vindos dos aconselhamentos e que se revelavam importantes quando adentrávamos em sua sala e nos deparávamos com uma longa estante repleta de livros. Ali ficava um mundo de conhecimentos e possibilidades  que levava a mim e a tantos outros para além das fronteiras da fazenda onde morávamos. Aprendi muito ali, com os livros e com ela.
     Ela mesma aprendeu a gostar de ler. Muitas vezes ao chegar em sua casa, lá estava ela com os livros na mão. É bem verdade que a enxada e os livros  moldam as pessoas para o bem. Disso não tenho dúvidas.
      Em minha memória também recordo das festas em sua casa. Almoços de domingo, amigos secretos, festas de Natal e comemorações juninas são as maiores lembranças.
      Dos almoços de domingo lembro da mesa longa, coberta por toalhas coloridas, cheia de comes e bebes e todos sentados em volta. Alguns descansando na grama. Dos amigos secretos, a lembrança vem das risadas e ironias na hora da revelação. Dos Natais, recordação da árvore enfeitada com lâmpadas coloridas e com as iniciais FSI. Das festas juninas, as rezas, o levantamento do mastro com os três santos abençoando a festança, pau de sebo, a fogueira, as danças e as músicas.
      Fazer festa sempre tem um significado de abrir-se para as pessoas, de ser receptivo às amizades, de trazer as pessoas e as conversas para si e dar-lhes acolhimento. Deve ser também por isso que ela, em qualquer idade que tivesse, sempre soubesse receber e acolher as pessoas.
      Imagino quantas vivências guarda a sua memória: ganhos e perdas, alegrias e tristezas, festas e lutos, risos e choros, momentos de ser fortaleza e momentos de ser escombro, de onde ensinou o maior exemplo de todos: saber se reerguer e recomeçar.
      Parabéns Tia Lica, por  extrair saberes e aprendizagens das mais simples experiências.
      Parabéns por ter compartilhado os seus conhecimentos comigo e com tanta gente.
      Parabéns por ter sido esteio e fortaleza para tantos que aportaram em sua casa.
      Parabéns por estar presente por tantos anos em nossas vidas.

                                                                               Maria Rosângela da silva