Filhos nascidos dela mesma foram 6: Benedito, Raimundo, Regina, Cida, Clarice e
Alice, mas são muitos os que ela adotou, cuidou, criou, orientou e mostrou o mundo.
Minhas memórias não conseguem voltar muito
atrás, mas o que me lembro é de uma mulher forte, com liderança aprendida da
necessidade, falante, boa negociadora, ímpar como gerenciadora de conflitos,
mulher de atitude e de fibra.
O pouco estudo e letramento não foram
suficientes para colocar-lhe barreiras na vida. Criou e estudou os filhos, deu
de comer e de vestir a eles e a muitos agregados que chegavam às suas portas. Trabalhou
duro, incentivou o crescimento de muita gente, pôs juízo na cabeça de muitos.
Sempre altiva e autoritária, não dava
muitas brechas ao acaso. Decidia, mandava, imperava em sua casa, com os filhos
e demais pessoas da vizinhança. Até hoje sabe debater e argumentar muito bem e
é capaz de ganhar as discussões com poucas palavras.
Sua casa era grande no tamanho e no
aconchego, estava sempre cheia, muito falatório, assunto que não acabava mais.
Um lugar quente, acolhedor, que fartava de colo e ensinamentos.
Ensinamentos vindos das conversas, das
orientações e até das broncas. Broncas, muitas broncas nos filhos, às vezes
teimosos, nos sobrinhos que saíam fora do trilho, na molecada da vizinhança que
não parava de fazer arte e causar aquelas brigas comuns da infância, nos funcionários que não trabalhavam direito.
Ensinamentos vindos dos aconselhamentos e
que se revelavam importantes quando adentrávamos em sua sala e nos deparávamos
com uma longa estante repleta de livros. Ali ficava um mundo de conhecimentos e
possibilidades que levava a mim e a
tantos outros para além das fronteiras da fazenda onde morávamos. Aprendi muito
ali, com os livros e com ela.
Ela mesma aprendeu a gostar de ler. Muitas
vezes ao chegar em sua casa, lá estava ela com os livros na mão. É bem verdade
que a enxada e os livros moldam as
pessoas para o bem. Disso não tenho dúvidas.
Em minha memória também recordo das
festas em sua casa. Almoços de domingo, amigos secretos, festas de Natal e
comemorações juninas são as maiores lembranças.
Dos almoços de domingo lembro da mesa
longa, coberta por toalhas coloridas, cheia de comes e bebes e todos sentados em
volta. Alguns descansando na grama. Dos amigos secretos, a lembrança vem das
risadas e ironias na hora da revelação. Dos Natais, recordação da árvore
enfeitada com lâmpadas coloridas e com as iniciais FSI. Das festas juninas, as
rezas, o levantamento do mastro com os três santos abençoando a festança, pau
de sebo, a fogueira, as danças e as músicas.
Fazer festa sempre tem um significado de
abrir-se para as pessoas, de ser receptivo às amizades, de trazer as pessoas e
as conversas para si e dar-lhes acolhimento. Deve ser também por isso que ela,
em qualquer idade que tivesse, sempre soubesse receber e acolher as pessoas.
Imagino quantas vivências guarda a sua
memória: ganhos e perdas, alegrias e tristezas, festas e lutos, risos e choros,
momentos de ser fortaleza e momentos de ser escombro, de onde ensinou o maior exemplo
de todos: saber se reerguer e recomeçar.
Parabéns Tia Lica, por extrair saberes e aprendizagens das mais
simples experiências.
Parabéns por ter compartilhado os seus
conhecimentos comigo e com tanta gente.
Parabéns por ter sido esteio e fortaleza
para tantos que aportaram em sua casa.
Parabéns por estar presente por tantos
anos em nossas vidas.
Maria Rosângela da silva
Maria Rosângela da silva
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