O que os (as) selfies
não revelam sobre os adolescentes
Fazer selfies não é mais mania só da
garotada. Muitos adultos também curtem essa divertida mania de
autofotografar-se sozinhos ou com amigos.
É certo que vivemos tempos de muito
narcisismo. Os jovens acham-se “mega”, “ultra-especiais” em tudo. Querem ser
atendidos primeiro, querem atenção exclusiva, querem ser queridos mais que os
outros, desejam muitos bens de consumo, sem desejar também esperar por eles, querem
sucesso, sem esforço.
Pensando melhor, não são só os jovens que
têm essa lista de características, uma grande porção dos adultos também a têm. Mas
agora, vou deixar os adultos de lado e falar só dos adolescentes.
Hoje os jovens querem registrar tudo em
suas redes sociais. Tudo não, só o que lhes interessa. Só o que lhes dá status. Só o que os faz
parecer grandes, adultos. Só o que lhes faz ter crédito com seus pares.
As fotos feias são apagadas. As fotos
estranhas ficam de fora.
Os autorretratos tirados pelos jovens
mostram como se veem bonitos, interessantes, alegres, cheios de vida. O que
eles não revelam é que os adolescentes enfrentam um período bastante
conturbado, repleto de medos, inseguranças e mudanças.
0s (As) selfies mostram cenas engraçadas,
vívidas, recheadas de alta auto-estima. Elas escondem as irritações, o mal humor,
a preguiça e as angústias sobre o futuro, tão comuns nessa fase.
As fotos de si mesmos mostram jovens
confiantes. Elas não deixam em evidência as incertezas dos amores não
correspondidos, as dúvidas sobre sua sexualidade, as questões sobre as escolhas profissionais.
Se os (as) selfies mostrassem os conflitos
emocionais dos adolescentes, elas escancarariam suas imperfeições e angústias e
isso no mundo virtual é proibido. Só vale mostrar situações perfeitas, momentos
felizes, desejos realizados. Nas redes
sociais parece haver a obrigação de ser feliz o tempo todo.
Quando os (as) selfies são em grupo, retratam
as amizades perfeitas, ajustadas,
equilibradas. Sabemos da instabilidade dos adolescentes e da necessidade de
estarem em grupo para sentirem-se fortalecidos. Muitas vezes, em vez de
relações sólidas, as sabemos “líquidas”, fáceis de desfazer, de escorrer, de
escoar pelo ralo.
Fica aqui o meu desejo: que essa nova
forma de expressão retrate a alegria verdadeira dos nossos adolescentes.
Que sejam ajudados realmente a formar um
bom conceito de si mesmos. Que cresçam fortalecidos e saudáveis sabendo usar a
tecnologia na medida certa, sabendo tratar-se bem, valorizando o certo, o
justo, o respeito, sem depender da autorização das mídias sociais para serem
felizes.
Rosângela Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário