Celular: condenado ou absolvido?
Pensar na qualidade de vida dos nossos
adolescentes no que diz respeito ao uso do celular se faz muito necessário
devido ao excesso de dependência que estão criando com esses aparelhos.
Sou
mãe de adolescente e tenho sofrido para
estabelecer limites para o seu uso e para desviar a atenção da minha filha do celular. Longe de mim, aqui, apenas condenar e querer ir contra à
tecnologia e todas as suas boas possibilidades.
Acredito na aprendizagem através dos
recursos tecnológicos, sou favorável ao uso das mídias sociais na sala de aula,
estimulo o intercâmbio entre o real e o virtual em função da aprendizagem, entendo
que os jogos virtuais são estimuladores de muitas habilidades motoras e intelectuais.
A proposta aqui é falar do excesso,
daquilo que caminha para o uso doentio e do uso descabido. É preciso pensar nas
questões levantadas se quisermos conviver com adolescentes saudáveis e cheios
de vida.
O que leva uma geração a entorpecer-se pela sedução “fria” de uma tela de
alta tecnologia, cheia de funções e designs diversos?
Seria a falta de atividades
mais interessantes, mais lúdicas, mais sedutoras tanto em casa como nos centros
de aprendizagem que frequentam?
O que fazer para que não escondam-se nesse aparelho de 20 por 15 centímetros
recusando-se a entregar-se com atenção e afinco
nas tarefas que precisam ser feitas?
Será preciso diminuir-lhes o
excesso de autoconfiança e alta autoestima que os fazem achar que tudo vem fácil
a eles e que são merecedores de tudo pronto e ao alcance das mãos?
O que busca essa meninada que deixa-se
enfeitiçar por aquela tela cheia de movimentos, cores e possibilidades ficando
perplexa e abduzida como se tivesse perdido a capacidade de pensar e fazer
escolhas?
Seria a busca pelo seu
espaço, uma vez que hoje os adultos facilitam tudo para eles, inclusive
induzindo o jeito de pensar e de escolher?
Como podem acreditar ser fácil manter
relações através das telas, chegando a
perder o gosto pelo contato, pelo toque, pelo “estar junto”?
Seria pelo fato de terem
aprendido apenas essa forma de se relacionar?
Por que aceitam passar horas aprisionados
entre quatro paredes, num falsa ilusão de conexão e interação, tentando acreditar
que não estão sozinhos ou que têm um milhão de amigos?
Seria pelo espaço enorme que
os pais lhes dão e pela falta de tempo de dedicação para com eles?
De que forma pensam poder medir o afeto das pessoas, pela
quantidade de “likes” obtidos numa foto? O que saberão sobre amizade real? Como
resolverão seus conflitos sem olhar no olho do outro? Como aperfeiçoarão as
suas percepções sensoriais sem sentir os cheiros com atenção, sem notar
precisamente as cores, os gostos, sem atentar aos ruídos ao seu redor?
Do único jeito que
aprenderam sobre relações interpessoais. Até que resolvamos atentar e dar novos
modelos de interação.
Como suportam abdicar de seu sono, para
gastar as horas da noite trocando mensagens, disfarçando a triste sensação de
solidão ou talvez de ansiedade, resultando em fracasso nos estudos e nos afazeres
escolares?
Seria pela atenção recíproca
que trocam, preenchendo assim as lacunas vazias deixadas pelas famílias e
educadores? Seria porque muitos estão bem perdidos, sozinhos e abandonados
dentro de casa, largados à própria
sorte?
Que geração é essa que alucina-se pela “droga” da tecnologia tornando-se dependente de suas
ferramentas analgésicas? Será que sabem que usam o celular como anestésico aos seus
problemas do mundo real, diminuindo o contato com suas dores e certamente
com a possibilidade de resolvê-las?
Uma geração que construiu uma
forma diferente de receber atenção e que espera reações urgentes de seus
educadores.
Apontamentos feitos.
Exagero?
Loucura?
Preocupação descabida?
Reforço que as questões aqui
levantadas têm o intuito de levar pais e educadores à reflexão. Não são
verdades absolutas, são apenas constatações fruto de observações, leituras e
conversas com educadores e adolescentes.
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