sábado, 6 de setembro de 2014

Celular: condenado ou absolvido?

Celular: condenado ou absolvido?

     Pensar na qualidade de vida dos nossos adolescentes no que diz respeito ao uso do celular se faz muito necessário devido ao excesso de dependência que estão criando com esses aparelhos.
      Sou mãe de adolescente e tenho sofrido  para estabelecer limites para o seu uso e para desviar  a atenção da minha filha do celular.  Longe de mim, aqui,  apenas condenar e querer ir contra à tecnologia e todas as suas boas possibilidades.
     Acredito na aprendizagem através dos recursos tecnológicos, sou favorável ao uso das mídias sociais na sala de aula, estimulo o intercâmbio entre o real e o virtual em função da aprendizagem, entendo que os jogos virtuais são estimuladores de muitas habilidades motoras e intelectuais.
     A proposta aqui é falar do excesso, daquilo que caminha para o uso doentio e do uso descabido. É preciso pensar nas questões levantadas se quisermos conviver com adolescentes saudáveis e cheios de vida.
     O que leva uma  geração a  entorpecer-se pela sedução “fria” de uma tela de alta tecnologia, cheia de funções e designs diversos?
     Seria a falta de atividades mais interessantes, mais lúdicas, mais sedutoras tanto em casa como nos centros de aprendizagem que frequentam?
     O que fazer para que não  escondam-se  nesse aparelho de 20 por 15 centímetros recusando-se a entregar-se com atenção e afinco  nas tarefas que precisam ser feitas?
     Será preciso diminuir-lhes o excesso de autoconfiança e alta autoestima que os fazem achar que tudo vem fácil a eles e que são merecedores de tudo pronto e ao alcance das mãos?
     O que busca essa meninada que deixa-se enfeitiçar por aquela tela cheia de movimentos, cores e possibilidades ficando perplexa e abduzida como se tivesse perdido a capacidade de pensar e fazer escolhas?
     Seria a busca pelo seu espaço, uma vez que hoje os adultos facilitam tudo para eles, inclusive induzindo o jeito de pensar e de escolher?
     Como podem acreditar ser fácil manter relações através das telas, chegando a  perder o gosto pelo contato, pelo toque, pelo “estar junto”? 
     Seria pelo fato de terem aprendido apenas essa forma de se relacionar?
     Por que aceitam passar horas aprisionados entre quatro paredes, num falsa ilusão de conexão e interação, tentando acreditar que não estão sozinhos ou que têm um milhão de amigos?
     Seria pelo espaço enorme que os pais lhes dão e pela falta de tempo de dedicação para com eles?
     De que forma pensam  poder medir o afeto das pessoas, pela quantidade de “likes” obtidos numa foto? O que saberão sobre amizade real? Como resolverão seus conflitos sem olhar no olho do outro? Como aperfeiçoarão as suas percepções sensoriais sem sentir os cheiros com atenção, sem notar precisamente as cores, os gostos, sem atentar aos ruídos ao seu redor?
     Do único jeito que aprenderam sobre relações interpessoais. Até que resolvamos atentar e dar novos modelos de interação.
     Como suportam abdicar de seu sono, para gastar as horas da noite trocando mensagens, disfarçando a triste sensação de solidão ou talvez de ansiedade, resultando em fracasso nos estudos e nos afazeres escolares?
     Seria pela atenção recíproca que trocam, preenchendo assim as lacunas vazias deixadas pelas famílias e educadores? Seria porque muitos estão bem perdidos, sozinhos e abandonados dentro de casa, largados  à própria sorte?
     Que geração é essa que alucina-se pela “droga”  da tecnologia tornando-se dependente de suas ferramentas analgésicas? Será que sabem que  usam o celular como anestésico aos seus problemas do mundo real, diminuindo o contato com suas dores e certamente com  a possibilidade de resolvê-las?
    Uma geração que construiu uma forma diferente de receber atenção e que espera reações urgentes de seus educadores.
    Apontamentos feitos.
    Exagero?
    Loucura?
   Preocupação descabida?
Reforço que as questões aqui levantadas têm o intuito de levar pais e educadores à reflexão. Não são verdades absolutas, são apenas constatações fruto de observações, leituras e conversas com educadores e adolescentes.
   

 Rosângela Silva

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