sábado, 4 de fevereiro de 2017

Delação premiada no contexto pedagógico

                                     Delação premiada no contexto pedagógico
                                                           Rosângela Silva
Texto publicado na Revista http://www.revistadavila.com.br/2017/02/delacao-premiada-pedagogico-educacao/


     Ouvimos falar muito sobre o termo delação premiada nos últimos tempos. A delação premiada é uma troca de favores, na qual o acusado fornece informações ao juiz em troca de um prêmio que lhe concede a redução de sua pena em 1/3.
     Na verdade a delação premiada corta caminho na investigação e com esse atalho há mais rapidez para a solução dos crimes, beneficiando o Estado.  Ela é usada nos casos específicos como os de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, latrocínio, estupro, sequestro e homicídios.
     Como educadora fiquei pensando no que ensinaríamos aos alunos se instalássemos este sistema dentro das escolas. Embora saiba que muitas usam esse método, resolvi pensar nos prós e contras dentro do sistema escolar.
     Delatar o outro nunca foi visto com bons olhos, tanto que os delatores são chamados de  “dedo-duro”, “X9”, “fofoqueiro”,  “Judas” entre outros apelidos que se apregoam.
     Desta forma, é preciso fazer algumas reflexões: Incentivar a delação é um ato que deve ser incentivado em casa e na escola? Como se sente o delator? E o delatado? Quais as consequências para eles no meio social? O que trabalhar com o delatado, que é incapaz de assumir os seus atos? Como levar a criança ou adolescente a reconhecer seu erro, sem usar a via da delação? Que percepções ficam para o delator e para o delatado? A delação premiada faz o delator mudar de postura ou o incentiva a livrar a sua pele e se dar bem?
      A administração das questões éticas e morais em casa e na escola deve ser muito pensada e avaliada, pois as condutas tomadas pelos adultos refletem nas percepções e atitudes dos alunos, cidadãos já hoje e responsáveis pelo nosso futuro.  Ações ligadas à verdade e mentira, certo e errado, justo e injusto, ético e não ético frequentemente rondam as famílias, os professores, as salas dos coordenadores e diretores, que têm uma missão difícil ao analisar e avaliar cada caso, tomando decisões apropriadas e educativas.
     Com certeza essa missão precisa passar por processos de  análise e reflexão, sem deixar de lado a afetividade, combinando investigação, orientação e “consequentização”.
     Piaget que também estudou as fases do desenvolvimento moral das crianças/adolescentes, aponta que eles passam por vários estágios, indo da fase da inexistência de regras, passando por achá-las invioláveis e sagradas, indo para o momento de vigiar e cobrar as regras nas atividades coletivas até a chegada da autonomia, quando agem de acordo com princípios aprendidos.
     Enquanto a autonomia não chega, cabe aos  pais, professores e familiares trabalharem incessantemente as ações desejadas para que a criança/adolescente se transforme num adulto correto e valoroso. Fingir que não viu ou ouviu algo inadequado, esperar que a criança/adolescente por si só se corrija, defender os filhos diante de erros cometidos ou buscar justificativas para explicar seus erros são atitudes que atrapalham a formação moral das crianças/adolescentes.
     Tanto em casa como na escola os problemas devem ser investigados, apurados e concluídos. Usar o recurso da delação premiada buscando que o irmão, amigo ou colega da classe denuncie o infrator mostra primeiramente uma incapacidade do adulto em gerir o problema, apelando para um jeito mais rápido e pouco ético para solucionar o problema.
     Quando um professor, pai ou diretor investiga uma situação, busca soluções, indaga, levanta hipóteses, questiona, compara fatos, mostra coragem e ousadia, faz simulação da ocorrência,  ele passa a ser admirado pelos alunos ou filhos que o enxergam como alguém interessado em desvendar o problema, habilidoso, cuidadoso, apto para gerenciar conflitos e passa a ser visto como alguém confiável.
      Tudo isso dá muito trabalho e na maioria das vezes os adultos têm preferido tomar os atalhos a usar seu tempo na solução dos conflitos perdendo grande oportunidade de conhecer melhor os seus filhos/alunos.

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