O nu, a arte e a pedofilia
Rosângela Silva(texto publicado na Revista D'Avila)
A performance de um homem nu no
Museu da arte moderna deu o que falar nos últimos dias. E toda essa celeuma me
fez lembrar de uma vez que fui convidada por uma amiga para assistir uma peça
de teatro, há uns quatro anos atrás. Aceitei o convite e levei minha filha, que
na época tinha uns 13 anos.
Eu, tranquila e certamente
desatenta em relação à peça, não consultei a faixa etária e qual minha
surpresa quando do meio da peça ao final tinha um ator que se apresentava totalmente
nu.
Percebi que além de mim, outra
mãe também ficou aflita, sua filha deveria ter uns oito anos, e ela retirou-se
do local. Eu acabei me chateando comigo mesma por não ter consultado ou
preparado minha filha para as cenas.
Puritanismo da minha parte? Não
se trata disso.
No caso da educação da minha
filha, penso que deveria tê-la
consultado ou preparado para as cenas, porque o nu masculino nunca tão foi
presente na sua vida. Vivemos nós duas e o nu feminino sempre lhe foi mais
familiar. Claro que o corpo masculino
certamente não era novidade para ela, até por conta das nossas conversas e explicaç~oes feitas por mim,dos conteúdos da escola, do
acesso fácil à internet, das trocas de conhecimentos informais entre os amigos.
No caso resolvi ficar e
assistimos a peça até o final.
O nu e a arte sempre estiveram
unidos. Muitos artistas retratam o nu como forma de valorizar a beleza dos
corpos, como modo de chamar atenção sobre algo que querem registrar através da
sua arte ou ainda pelo apelo comercial. Lembremos de nus famosos: “O nascimento
de Vênus”, de Botticelli,”Chloe” deJules-Joseph Lefebvre, “As três ninfas” de
Aristide Maillol, a escultura “Davi” de Michelângelo, a escultura “Hermes de
Olympus” de Praxiteles entre outras. Obras seculares.
Acredito que cada família tenha
formas próprias de lidar com questões polêmicas e difíceis como sexualidade, questões
de gênero, morte, dinheiro, alimentação, separação, rivalidades. Isso é
bastante pessoal e é um direito escolher
por quais vertentes vai enveredar a educação daquela criança.
Há famílias abastadas,
descuidadas. Há família pobres, que
superprotegem. Há famílias que abandonam. Há famílias que dão maus exemplos. Há
famílias ponderadas e extremamente sensatas. Há famílias nocivas. Há família
equilibradas. Há famílias de todas as formas,
modelos e padrões.
Voltando ao caso recente no MAM,
não me cabe julgar a atitude da mãe. Como educadora quero acreditar que a mãe que expôs a filha à performance deve
ter uma relação de naturalidade diante da nudez, esse deve ser um assunto
acessível à criança, com respaldo educativo de acordo com a idade cognitiva e
emocional da criança.
Sabemos que há uma crise na
educação familiar. Sabemos que as famílias têm terceirizado suas crianças,
porém isso não nos dá o direito de julgar o caso como incentivo à pedofilia,
até porque a maior parte desses casos
acontece, sigilosamente, dentro das casas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário