No dia seguinte à comemoração do seu aniversário a menina Ana Júlia se empolga com um quebra-cabeças de duzentas peças que ganhara da vó Lena. Avós normalmente dão presentes adoráveis aos seus netos.
O dia estava frio e chuvoso, convidando todos para o recolhimento. Dia preguiçoso, roupas confortáveis, cobertor no sofá, colchão jogado no chão, conversa rolando solta, risadas escancaradas.
Cenário propício para uma boa reunião de família, desta vez sem a distração dos celulares, já que estavam todos num local sem rede, sem conexão.
Voltando ao presente da menina, ela e seu pai começaram a procura pelas peças numa tarefa que duraria algumas horas.
Sentada num canto comecei minha observação.
Na mesa do centro o desenho de uma cena começava a esboçar. Pai e filha começaram a separar as peças por cores, alternando entre preencher o jogo e agrupar as peças.
Após um tempo de tentativas, se afastam e de repente o quebra-cabeças chama a atenção de outra pessoa que senta, olha e começa a raciocinar na escolha das peças a serem colocadas. Um tempo ali quebrando a cabeça, várias peças encaixadas e uma pausa.
Mais um tempo e um grupo se volta ao quebra-cabeças. Olham a cena que estava sendo composta e começam a maquinar novas tentativas de encaixe. Avançam na colocação das peças e saem dando lugar a outras pessoas. Os encaixes eram feitos por pessoas de todas as idades indo das crianças aos idosos.
Assim sucederam muitas jogadas. Pessoas olhavam, encaixavam peças e saíam. E a cada jogada, novas peças davam origem à cena e a vontade de terminar ficou imensa.
A chuva continuava. Agora o grupo todo se juntou. E foi uma grande corrente de energia que reuniu todos num único objetivo. Como cada um tinha ajudado na construção do jogo, agora todos se sentiam responsáveis por concluir a tarefa.
Quando a última peça foi colocada, a vibração foi bonita de se ver. Gritos, risos, abraços. Uma única torcida em prol da realização final.
Fiquei observando, pensando e tirando dali muitas lições.
Primeiro, a lição da importância do brincar junto, da interação, da troca de experiências.
A segunda lição é do valor do trabalho em equipe. Quando um desistia, logo vinha outra pessoa e recomeçava o jogo. O jogo foi um elo que ligou a todos num único objetivo.
Outra lição foi a da importância do foco. Mesmo alguns tendo se dispersado, o jogo manteve-se ali, e ao passarem pela mesa a atenção voltava e com ela o desejo de terminar aquela história.
Fico a pensar que tudo isso só foi possível porque a vó Lena comprou um presente que permitiu toda essa interação e porque todos estavam distantes das redes, “em OFF para a tecnologia” e plugados apenas no interesse por terminar aquele jogo de quebra-cabeças.
Que nos cerquemos que momentos assim!!!
Rosângela Silva
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