Pensando nas relações entre as pessoas me deu
vontade de escrever sobre as emoções que as permeiam.
É fácil falar com as pessoas pelas telas
dos celulares e computadores. Se por um lado parece que as pessoas estão
escancarando mais seus sentimentos e desejos, usando os canais das redes
sociais para desabafar e explicitar seus pensamentos, libertando-se de pudores
e amarras, usando da liberdade de poder se expor, por outro lado, cada vez mais
as pessoas podem esconder seus verdadeiros sentimentos, pois a tela não capta
todas as reações emocionais e corporais que o “cara a cara” permite.
Mentiras, enganações, xingamentos, ironias,
insinuações, desrespeito são cada vez mais comuns nas relações virtuais e
reais. Parece que todos estão ansiosos, impacientes, acelerados, cansados, sem
tempo e vontade de dar explicações.
Empenhados em ter seus desejos e vontades
satisfeitos, as pessoas dedicam-se a ser felizes a qualquer custo: passando os
outros para trás, se colocando na frente
para ter o destaque em detrimento do esforço alheio, trapaceando em projetos,
plagiando ideias, terceirizando os filhos, estacionando em lugares
preferenciais, mostrando esperteza em ações desrespeitosas no trânsito, tirando
vantagens, praticando pequenas, médias e grandes formas de corrupção, que
acreditam ser aceitáveis, e assim vai.
Lidando com pessoas, vejo que a grande
maioria, não se constrange mais com os erros, nem com os atrasos, pouco se
importam com cobranças, ignoram procedimentos combinados, fazem acordos que são
esquecidos, não concluem tarefas e afazeres da sua lista de serviços, demonstram
não entender as cobranças, fingem-se de esquecidas, inventam desculpas infantis
para serviços não realizados, enfim, culpam o tempo, as circunstâncias, os
outros, por não darem conta de suas atribuições profissionais ou pessoais.
Ficar embaraçado diante de cobranças e
exigências é uma característica que tem se tornado rara entre os cidadãos.
Enrubescer diante de erros e enganos é um
ato que não temos visto com frequência.
Corar e mostrar o rosto vermelho são
atitudes pouco notadas, já que muitos se sentem necessitados de exigir seus
direitos antes de cumprir seus deveres.
Ficar sem graça e desconcertado parece ser
coisa do passado, não cabe no tempo presente.
Ficar com o rosto vermelho é um sinal que
o corpo está reagindo à alguma situação difícil ou constrangedora com uma
descarga de adrenalina, que acelera o ritmo cardíaco e respiratório, mandando
mais sangue para o cérebro e os vasinhos por onde o sangue passa aumentam de
tamanho provocando a vermelhidão. Explicação da ciência para a expressão popularmente
chamada “vergonha na cara”.
O lado bom dessa discussão é saber que
pesquisadores da Califórnia, através de seus estudos, atestaram que pessoas assim são mais generosas,
cooperativas e confiáveis.
Isso me fez pensar na educação que tive,
nas orientações severas dos meus pais, na cobrança por ser correta sempre. Hoje
adulta, ainda enrubesço, fico sem graça,
quando sou cobrada por algo não feito e que era da minha alçada, por
esquecimentos que eram de minha responsabilidade, por omissões, deslizes ou quando duvidam da minha palavra.
Mesmo sabendo que esse tipo de
constrangimento é considerado uma virtude por muitos, às vezes me sinto uma
“estranha no ninho”. Parece que ser certa, agir corretamente, enfrentar as
dificuldades com altivez e ser honesta são valores atribuídos a pessoas bobas, ingênuas
e simplórias.
Ainda hoje, muitas vezes, ouço o eco das
palavras do meu pai a perguntar:“ __Cadê aquela rodinha vermelha no rosto?”
Então, também pergunto: __Cadê?
Rosângela Silva
Rosângela Silva
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