segunda-feira, 6 de julho de 2009

Matéria publicada na Tribuna

A ‘praga’ do bullying na escola


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Ofensas e brincadeiras de mau gosto podem
atrapalhar o ambiente escolar

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:: Por CYNTHIA SANTOS

Brincadeiras entre crianças e adolescentes na fase escolar são comuns. No entanto, a distinção entre o que é ou não saudável para os alunos tem virado motivo de preocupação de pais e educadores. O bullying, fenômeno caracterizado por atitudes agressivas entre os colegas, culminando em atos de humilhação e até mesmo violência física, é conhecido mundialmente como um dos principais vilões da educação.

Decorrente da palavra bully (“valentão”), bullying é um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir alguém incapaz de se defender.

Se não detectado pelos professores ou pais, o problema pode levar ao desinteresse do aluno pelas atividades escolares e, em casos extremos, acarretar em depressão, já que as agressões verbais e físicas costumam ser constantes e em geral destacam os pontos fracos da vítima, como magreza, obesidade, ou outro aspecto da aparência que o desagrade.

A escola deve estar sempre atenta às brincadeiras que acabam se tornando agressivas ou violentas. Exemplo de que a preocupação não é em vão é que este ano a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo distribuiu cartilhas aos professores no início do ano letivo alertando sobre o problema. Além disso, desde o início do mês de abril, a organização não governamental (ONG) Um Milhão de Amigos – Cidadania e Motivação desenvolve um trabalho sobre o tema nas 25 escolas estaduais de Indaiatuba.


O problema é grave e merece atenção. É o que informa a pedagoga e psicopedagoga Rosângela Silva, diretora do Colégio Escala, que fala sobre o assunto na entrevista a seguir:

A ‘praga’ do bullying na escola


Revista da Tribuna: O que é bullying?
Rosângela: É o ato de colocar apelidos, ofender, humilhar, discriminar, excluir, agredir, bater, quebrar pertences. São atitudes intencionais e repetitivas. Se for uma vez ou outra, não caracteriza bullying.

Revista da Tribuna: O problema é uma novidade nas escolas?
Rosângela: Não. O bullying sempre existiu, mas hoje os estímulos são maiores e a falta de contenção dos pais fez o problema se agravar.

Revista da Tribuna: Como o fenômeno ocorre?
Rosângela: Em geral acontece mais entre os meninos, mas as meninas também não ficam muito atrás. Os alunos ‘tramam’ formas de desestabilizar o colega, destacando seus pontos negativos, geralmente se a criança é muito magra, obesa, ou se tem alguma característica que chame a atenção, como um dente muito para frente, por exemplo. A criança que pratica o bullying não olha para o outro, não é solidária.

Revista da Tribuna: Como a escola deve agir frente ao problema?
Rosângela: A escola não pode deixar o problema se avolumar, pois senão o ambiente fica insuportável. Para evitar a falta de controle, deve ser feito um trabalho cotidiano, para detectar o bullying logo no início.

Revista da Tribuna: Tendo detectado um caso de bul­lying, qual é o papel da escola?
Rosângela: A escola deve chamar os pais do agressor e da vítima, e relatar o problema. O correto é trabalhar com o agressor, para suavizar seu comportamento e também com a vítima, buscando fortalecê-la. A escola não pode deixar passar nada sem tratamento. O correto é chamar e ouvir as partes, porque às vezes o jovem não entende o que está acontecendo.

Revista da Tribuna: Se a escola não perceber o problema, que medidas os pais devem adotar?
Rosângela: O pai tem que procurar a escola e relatar o que está acontecendo. Às vezes o aluno não conta para o professor por medo, receio dos colegas.

Revista da Tribuna: O bullying tem idade para acontecer?
Rosângela: Não. Entre crianças de 3 a 6 anos já é possível identificar atos relacionados, ou pequenas mentiras. De 9 anos em diante o bullying fica mais evidente, é uma fase em que o menino não quer brincar com menina, por exemplo. Mas o auge ocorre entre 13 e 14 anos, porque começam os conflitos da adolescência.

Revista da Tribuna: Os pais têm uma parcela de culpa nestes casos?
Rosângela: Atualmente alguns pais estão perdidos, delegam muito a educação dos filhos para a escola, mas também se sentem culpados por trabalharem demais e acabam superprotegendo as crianças. Isso não é bom nem para os mais frágeis nem para os mais fortes, que ficam com a auto-estima muito elevada.

Revista da Tribuna: Existem casos em que o aluno vítima de bullying necessita recorrer a psicólogos?
Rosângela: Sim. Às vezes nem a família e nem a escola conseguem resolver o problema, então é necessário fazer o encaminhamento para profissionais.

Revista da Tribuna: É difícil para a escola identificar o problema?
Rosângela: Sim. O mais pesado são as questões morais, que mexem com a autoestima. Este é o maior perigo porque é uma questão velada, com provocações, ameaças. Quando a agressão é verbal, muitas vezes o agressor faz quando não tem nenhum adulto por perto.

Revista da Tribuna: As agressões pela internet também se enquadram em bullying?
Rosângela: Quando ocorre pela internet é o cyberbullying, que é deixar alguma mensagem vexatória no Orkut, MSN, entre outros. Isso acaba virando problema da escola, principalmente quando montam uma comunidade contra alguém, ou reclamando de alguma aula. Às vezes o aluno briga na escola e a briga se estende para a internet.


Características do bullying

O que é: todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder.

Onde ocorre: é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana.

Autores: são, comumente, indivíduos que têm pouca empatia. Frequentemente, pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros.

Alvos: pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as consequências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis.

Testemunhas: representadas pela grande maioria dos alunos, convivem com a violência e se calam em razão do temor de se tornarem as “próximas vítimas”. Apesar de não sofrerem as agressões diretamente, muitas delas podem se sentir incomodadas com o que veem e inseguras sobre o que fazer.

Consequências sobre o ambiente escolar: quando não há intervenções efetivas, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo.

Consequências sobre os alvos: as crianças que sofrem bullying, dependendo de suas características individuais e de suas relações com os meios em que vivem, em especial as famílias, poderão não superar, parcial ou totalmente, os traumas sofridos na escola. Poderão crescer com sentimentos negativos, especialmente com baixa autoestima, tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamento. Poderão assumir, também, um comportamento agressivo.

Consequências para os autores: aqueles que praticam bullying contra seus colegas poderão levar para a vida adulta o mesmo comportamento antisocial, adotando atitudes agressivas no seio familiar (violência doméstica) ou no ambiente de trabalho.

Fonte: Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia)

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