É verdade esse “bilete”
Rosângela Silva
Viralizou na internet o bilhete do menino Gabriel
Lucca de 5 anos anos, que numa mistura de esperteza com ingenuidade ou criatividade
com inteligência, forjou o bilhete como sendo da sua professora Paula.
O desejo de faltar à aula e “ficar de
boa” falou mais alto, e ele na sua inocência de criança foi deixando pistas da
inverdade contida ali. O caso virou meme, piada, crítica social e política
e contagiou muita gente. Ele traz em si a oportunidade de falarmos sobre a
verdade e a mentira na ótica das crianças.
Para clarear podemos usar os estudos
de Piaget que nos traz um melhor entendimento sobre as fases da
moralidade.
Piaget argumenta que o desenvolvimento
da moral abrange três fases: a anomia, quando a moral não se coloca, nem se faz
presente, sendo as ações da criança regidas pelas necessidades básicas, pois ainda
não há consciência do que se é certo ou errado. Um pouco depois, por volta dos
9 – 10 anos de idade, o raciocínio é heteronômico, ou seja, a regra é levada
muito a sério e com uma boa porção de inflexibilidade. No final vem a
autonomia, quando se percebe que o respeito às regras é feito por meio de
acordos e que as regras não devem mudar apenas para atender aos próprios
anseios.
É bem verdade que muitos adultos, mesmo
na fase da autonomia, ainda precisam ser cobrados tantas vezes.
É bem verdade que, mesmo na fase da
autonomia, muitos os políticos desconhecem valores importantes para administrar
nossas cidades, estados e país.
É bem verdade que, mesmo na fase da autonomia, muitos profissionais mostram-se desatentos e
irresponsáveis com suas tarefas.
É bem verdade que, mesmo na fase da
autonomia, alguns pais e educadores também descumprem regras e quebram acordos.
Mas voltemos a falar das crianças... Pequenas
e genuínas, elas replicam os padrões da sociedade.
Elas buscam caminhos próprios para
solucionar desafios e dificuldades.
Elas procuram saídas "mais
fáceis" e ingênuas que, nós , com nossa “adultice”, já perdemos.
Elas encantam com sua simplicidade e
nos ensinam sobre verdades que nós mesmos já esquecemos ou descremos.
Elas educam nossa consciência já
corrompida pela contemporaneidade, quando nos surpreendem com suas falas
especialíssimas.
Lidando com crianças devemos repensar
nossas verdades e assumirmos a autenticidade que muitas vezes tentamos camuflar
sobre nós mesmos, nossas vontades, nossas ideias e convicções.
A criança mente sim. Isso faz parte de
uma fase de sua vida, em que está percebendo como o mundo funciona e quando
ainda está absorvendo mecanismos para lidar com a vida social e o
autoconhecimento.
A mentira passageira, criativa e até
engraçada, dita por impulso torna-se inofensiva quando direcionada e orientada
por um adulto lúcido e preparado.
A mentira repetida, com teor de
maldade, criada com a intenção de prejudicar alguém precisa ser coibida e
orientada com seriedade pelos educadores.
E creiam... É verdade esse bilhete!!